sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Há Vinte Anos

Em homenagem aos 20 anos da morte de Raul Seixas

Quando era criança, ouvia muito Raul Seixas. Lembro-me de uma fita cassete (é assim que percebemos o quanto envelhecemos rápido - sou do tempo da fita cassete, hahaha) que meu pai me presenteou do Raul - eu devia ter uns seis ou sete anos. A fita cassete se chamava "Raul Seixas: Os maiores Sucessos" ou algo parecido. Na fita, havia músicas memoráveis como Trem das Sete, Gita, Ouro de Tolo e Não quero mais andar na contra-mão. A partir daí me interessei pela vida e trajetória do "maluco beleza".

O músico baiano, segundo informações biográficas, tinha como sonho maior tornar-se um grande escritor. Até que o Rock n Roll aparece em sua vida, ao assistir nas telas de cinema Elvis Presley com seu som inovador. Alguns anos se passaram até que Raul, juntamente com alguns amigos de Salvador, monta uma banda, "Os Relâmpagos do Rock", posteriormente "The Panters" (Raulzito e os Panteras). A convite do amigo Jerry Adriani, Raul Seixas vai para o Rio de Janeiro gravar um disco pela gravadora Odeon - foi um total fracasso. Mas ele não desistiu fácil assim...

Entre caminhos e descaminhos, Raul alcança o sucesso, tornando-se conhecido em todo o Brasil com um disco memorável (em parceria com o parceiro Paulo Coelho) lançado em 1973: Krig-Há, Bandolo!. Para muitos críticos, este é um dos mais importantes álbuns do rock nacional.

Outro grande momento foi a criação da Sociedade Alternativa, concebida pela dupla Raul Seixas e Paulo Coelho - um marco na vida do rock brasileiro e que valeu à dupla uma passagem complicada pelos porões da ditadura militar.

Uma música, em especial, chama muito a minha atenção. Trata-se de Prelúdio, com apenas três versos, repetidos como um mantra na voz de Seixas. Quando Lula venceu a eleição em 2002, ele citou Prelúdio - analogamente fiz o mesmo ano passado quando foi anunciada a nossa vitória. É um hino aos sonhos coletivos que se realizam:

Prelúdio (Raul Seixas)

Sonho que se sonha só
É só um sonho que se sonha só
Mas sonho que se sonha junto é a realidade

--------------------------------------------------------------------------

Durante os shows de lançamento do LP Krig-Há-Bandolo! era distribuído um gibi contendo um manisfesto que pode ser lido abaixo (sic):

* Manifesto:

1 - O espaço é livre. Todos têm direito de ocupar seu espaço.

2 - O tempo é livre. Todos têm que viver em seu tempo, e fazer jus às promessas, esperanças e armadilhas.

3 - A colheita é livre. Todos têm direito de colher e se alimentar do trigo da criação.

4 - A semente é livre. Todos têm o direito de semear suas ideias sem qualquer coerção da INTELEGENZIA ou da BURRICIA.

5 - Não existe mais a classe dos artistas. Todos nós somos capazes de plantar e de colher. Todos nós vamos mostrar ao mundo e ao Mundo a nossa capacidade de criação.

6 - "Todos nós" somos escritores, donas-de-casa, patrões e empregados, clandestinos e careta, sábios e loucos.

7 - E o grande milagre não será mais ser capaz de andar nas nuvens ou caminhar sobre as águas. O grande milagre será o fato de que todo dia, de manhã até à noite, seremos capazes de caminhar sobre a Terra.

* Saudação final do 11º manifesto:

- Sucesso a quem ler e guardar este manifesto. Porque nós somos capazes. Todos nós, todos nós somos capazes.

Escrito por: Raul Seixas, Paulo Coelho, Sylvio Passos, Christina Oiticica, Toninho Buda, Ed Cavalcant.

3 comentários:

Unknown disse...

"... sonho que se sonha só..."
Abraço

Tadeöl disse...

"mas sonho que se sonha junto"

Tadeöl disse...

"mas sonho que se sonha junto"