Hoje, sexta-feira da paixão, é um dia cujo simbolismo importa a todos os cristãos do mundo inteiro e também aqueles que, vacilantes na fé ou críticos dos ritos eclesiásticos, reconhecem e inspiram-se na mensagem e no ideário de Jesus.
Rememora-se Sua paixão e morte de cruz, o mais doloroso e plangente fenecimento. Em vão Ele não pode ter morrido. Até para os descrentes, a motivação de sua morte é incrivelmente forte para ser desconsiderada. Comumente, se diz que morreu para salvar toda a humanidade dos pecados. Isso também o é, principalmente sobre a ótica da teologia. Mas morreu, sobretudo, porque enfrentou os poderosos de seu tempo e criticou o sistema de dominação dos mais pobres e contestou o Templo. À luz da história e da análise dos evangelhos, a morte de Jesus Cristo nos rememora um enfrentamento inédito ao sistema vigente. Ele também nos apresentou seu Pai como o Deus da misericórdia, do amor e do perdão. Não o Deus do temor e da punição. Trouxe vida, luz e esperança ao mundo. Renovou a aliança do povo com Deus e instituiu uma nova ordem.
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Imagem de Cristo em uma procissão na Espanha AP |
Um fato: A sociedade atual é muito distante daquela preconizada por Jesus Cristo. Muitos dos que se dizem cristãos e estão, regularmente, em suas igrejas ajoelhados e orando farisaicamente, são os primeiros a fazerem julgamentos antecipados, a propagarem o ódio e a intolerância, a disseminarem o preconceito e a brutalidade. Em suma: estão contrariando frontalmente os ensinamentos de Jesus Cristo. Não honram Seu nome!
A Bíblia é riquíssima em exemplos e fiz aqui um recorte de trechos (fora dos evangelhos) que demonstram a incompatibilidade do cristianismo com a ganância, a vaidade excessiva, a ira, a gabolice, a injustiça, a opressão e a inverdade. Observe:
Isaías 56:11, E estes cães são gulosos, não se podem fartar; e eles são pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um por sua parte.
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Eclesiastes 5:10, O que ama o dinheiro nunca se fartará dele; quem é apegado às riquezas nunca se farta com a renda. Isto também é vaidade.
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1 Timóteo 6:10, Porque o amor do dinheiro é a raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e afligem a si mesmos com muitos tormentos.
11, Mas tu, ó homem de Deus, fuja destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão.
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2 Coríntios 10:17, Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor. 18, Pois não é aprovado aquele que faz recomendação de si próprio, mas sim aquele a quem o Senhor recomenda.
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2 Timóteo 2:15, Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
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Ao ler o livro sagrado dos cristãos, percebe-se, com muita facilidade, que há muita gente usando o nome de Deus equivocada ou sordidamente. Mas é possível mudar isso? Sim. Podemos e devemos mudar nossas posturas, assumindo uma postura verdadeiramente cristã e incentivar os outros a fazê-lo.
O ser humano pode mudar até os últimos dias de sua vida e dignificar a sua existência. Se não acreditarmos nisso, não acreditamos na humanidade e, por consequência, sequer somos capazes de acreditar em nós mesmos. Isto é, assumimos uma condenação moral certa (e, para os que crêem, espiritual também). Restaria à humanidade assistir, passivamente, ao seu próprio fim. Mas não é nisso o que cremos os cristãos. Estamos seguros de que o homem pode mudar a si mesmo e assumir uma nova postura diante de Deus e, por conseguinte, diante da vida em sociedade.
Se há um momento capaz de propiciar uma mudança de rota de vida, este momento é a sexta-feira santa dos cristãos, especialmente neste momento único que estamos vivenciando – de sofrimento, afastamento social e aprendizagens.
Não desanime. Se reina o ódio dentro de você, de sua família ou da instituição da qual você participa ingenuamente, mude. Ainda há tempo! Se há vida, há tempo. Nunca é demais rememorar que Jesus converteu um ladrão poucos minutos antes de cumprir sua sentença:
Evangelho segundo São Lucas (Lc), capítulo 23: 35-42
A multidão conservava-se lá e observava. Os príncipes dos sacerdotes escarneciam de Jesus, dizendo: Salvou a outros, que se salve a si próprio, se é o Cristo, o escolhido de Deus!
Do mesmo modo zombavam dele os soldados. Aproximavam-se dele, ofereciam-lhe vinagre e diziam:
_ Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo.
Por cima de sua cabeça pendia esta inscrição: Este é o rei dos judeus.
Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele:
_ Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós!
Mas o outro o repreendeu:
_ Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum. E acrescentou:
_ Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!
Jesus respondeu-lhe:
_ Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso.
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Mudar a nós mesmos e, por consequência, a nossa sociedade não é apenas possível, mas necessário e urgente! Urge reinstituir os verdadeiros valores cristãos!
Alisson Diego