Rui Lara, presente!
O ex-prefeito, Rui Alberto Lara, em 2012. Foto: Lílian Nascimento |
Eram tempos tão marcantes que estão vívidos para mim: eu tinha apenas 16 anos de idade, frequentava a Renovação Carismática Católica, era "âncora" de um programa de rádio ao lado do amigo Antônio Júnior (o polêmico "Café com Leite"), fazia teatro no Grupo Vidas em Artes, tocava teclado na banda do Anderson Sansão (eventualmente, nas missas dominicais), atuava como goleiro do Galla (nosso time de futsal foi vice-campeão naquele ano) e estudava muito, muito mesmo porque queria ser diplomata.
Rui já era um senhor de 65 anos, bastante conhecido pelo temperamento forte, pelas palavras diretas e também por ter sido um prefeito honesto e que sabia dizer "não" sem dar voltas. Nossos perfis e idades eram bastante diferentes, logo uma amizade sincera e próxima era muito improvável. Mas, na vida, o improvável acontece todos os dias para nos provar que a existência em si é a improbabilidade encarnada. Rui e eu nos tornamos, então, fraternos amigos.
A verdadeira amizade é aquela construída pelo tempo, testada pelas intempéries e forjada pelas circunstâncias – independente das idades dos amigos. Nestes 17 anos de convivência próxima, muita coisa aconteceu. Recebi, honradamente, o seu apoio nas três eleições em que disputei (vereador em 2004, prefeito em 2008 e prefeito novamente em 2012). Vencemos juntos os três pleitos. Mas nossa amizade jamais se limitou à política. Rui era conselheiro em todos os âmbitos, inclusive em meus trágicos namoros. E, como em todo autêntico relacionamento de amizade, Rui e eu também passamos por momentos de desentendimentos e acaloradas discussões, o que serviu para fortalecer-nos enquanto amigos. Maria Rita que o diga – ela é testemunha disso tudo.
Uma característica como governante que me chamava a atenção em Rui Lara era o seu carinho com as comunidades rurais. Ele dizia que a zona rural demonstrava a eficiência ou a ineficiência de um prefeito. “Cuidar da cidade é mais fácil, mas cuidar das comunidades rurais exige que se priorize as pessoas, exige planejamento adequado, exige bom governo”, aconselhou-me certa vez. Aprendi isso e muitas outras coisas com ele.
Rui se indignava com a podridão reinante na política nacional. Nutriu uma descrença profunda pelo sistema político nos últimos anos - o que também comentávamos sempre. Diante disso, ele rememorava uma célebre frase de seu homônimo baiano, o Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
Se não podíamos fazer muito pelo país, já que lá no alto a bandidagem tomava conta, era necessário que fizéssemos algo aqui na base – concordávamos ambos. É nosso dever, enquanto gestores públicos locais, deixarmos uma comunidade melhor para os que virão. Quem sabe um dia os de cima possam aprender... Tínhamos consenso sobre esta visão de mundo e sabíamos qual era o nosso papel. Não é preciso ser prefeito, governador ou deputado para trabalhar pela comunidade, é preciso ter espírito público, compromisso comunitário e senso de coletividade.
A história itaguarense registrará para sempre a contribuição deste singular gestor público e homem de comunidade. Rui Lara está eternamente presente na história de Itaguara como um abnegado administrador e, na vida de cada um de seus amigos e familiares, como um ser humano ímpar.
Se nos resta uma frase, esta deve ser: Obrigado, Rui; Itaguara lhe é eternamente grata!
Alisson Diego Batista Moraes, 33, advogado e gestor público. Foi prefeito de Itaguara-MG entre 2009 e 2016. Atualmente, exerce o cargo de secretário de Planejamento e Governo de Itaúna-MG.