sábado, 25 de dezembro de 2021

Afinal, o que é o natal?

Entre o congraçamento social e a atomização

* Alisson Diego


A resposta pode parecer simples: natal é uma manifestação de fé, a celebração do nascimento de Jesus, o filho de Deus, que é o próprio Deus-encarnado, assim dizem os cristãos.  

Minha questão, no entanto, é de fundo um pouco menos teológica. Quero dizer: como percebemos o natal socialmente no Brasil?  

O natal não é apenas uma noite de encontros familiares e troca de presentes. É, historicamente, um dos mais importantes momentos de congraçamento coletivo e um significativo elemento construtor de sociabilidade.  

O cancioneiro popular brasileiro é uma clivagem interessante para refletir sobre o natal. Adoniran Barbosa, Assis Valente, Chico Buarque, Luiz Gonzaga e até Carmen Miranda cantaram o natal em tons brasileiros há muitas décadas, dentre outras tradições culturais e musicais umbilicalmente ligadas ao natal como a Folia de Reis.   

Nas últimas décadas, a música e a cultura popular têm perdido espaço na temática natalina - juntamente com uma gama de autênticas manifestações nacionais, substituídas por desarmônicos estrangeirismos - frutos do neocolonialismo cultural que nos estão a impingir.


Te tamari no atua (“O filho de Deus”), por Paul Gauguin - 1896.


De volta à reflexão natalina, o que estamos assistindo, ano após ano, é a completa decadência do natal como este importante elemento de sociabilidade e pertencimento comunitário. Diante de uma sociedade cada vez mais atomizada e distante de sua própria história, estamos perdendo a capacidade de envolvimento com os ritos coletivos. Ao perdermos a dimensão social do natal, é possível perceber duas dinâmicas:   

1. Atomização social -  A individualização se acentua, deflagrando um processo de perda de laços coletivos e até mesmo familiares.  

2. Reflexão prejudicada - ao abandonar o natal como rito social, perdemos a oportunidade de refletir sobre questões que incomodam todas as sociedades ditas cristãs.   

O natal é um dos momentos mais propícios para nos debruçarmos sobre os dilemas nacionais, sobretudo a desigualdade tão incômoda quanto normalizada ao longo do ano.   

Neste período, muitos se perguntam e até se indignam sobre as razões das desigualdades sistêmicas neste país. Ao se perder a dimensão do rito natalino, normalizamos a desigualdade e ressaltamos a oportunista narrativa meritocrática.  Não se pode esquecer dos versos de Adoniran Barbosa muitas décadas atrás (eles continuam dramaticamente atuais):  

“Eu me lembro muito bem / Foi numa véspera de Natal / Cheguei em casa / Encontrei minha nega zangada / A criançada chorando / Mesa vazia, não tinha nada”.

Muitas mesas ainda continuam vazias no Brasil assolado pela pandemia em 2021, muitas crianças choram por falta de vida digna neste tempo nosso.   

Quando o natal perde sentido, nosso olhar que precisa ser crítico, mas também de esperança, torna-se unicamente utilitário e relega a solidariedade a último plano.  O natal é também o rito de esperança para milhões de famílias em busca de vida digna. Assim, cantou Chico Buarque em versos natalinos: 

“Pra quem não tem seu tesouro / A vida é só uma esperança”. 

Não se trata da esperança passiva, da espera cômoda, mas da esperança ativa, que provoca reflexão crítica e nos convida a transformar o mundo.  

Para além dos trenós, da neve e das renas - objetos distantes e gélidos, o Brasil é calorosamente rico em manifestações culturais, inclusive as natalinas. É essa cultura popular que pode ressignificar a vida comunitária e trazer alegria, congraçamento e reflexão crítica para a sociedade - preceitos importantes para encontrarmos saídas para os nossos persistentes dilemas nacionais. 

Afinal de contas, para solucionarmos os problemas do país, primeiro precisamos todos nos reconhecer como membros de uma sociedade nacional. 

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Sobre democracia partidária e cupulismo

Os principais jornais do país estamparam nas últimas 24 horas a formação de uma federação partidária incluindo os seguintes partidos: PV, PSB, PCdoB e PT.

A notícia do Correio Braziliense traz os seguintes dizeres: "Os presidentes regionais do Partido Verde aprovaram a criação federação com o PSB, PCdoB e PT em reunião com presidentes estaduais da legenda, nesta terça-feira (21/12). Também foi aprovado o apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula (PT) à Presidência da República." *  

Como membro do Diretório Nacional do Partido Verde e da Executiva do PV-MG e, sobretudo, como politólogo, causa-me estranheza tomar conhecimento de tão importante decisão apenas pela imprensa. A bem da verdade, tem se ventilado há algumas semanas a criação dessa federação partidária. Todavia, não houve, durante o processo deliberativo, qualquer escuta formal ao diretório nacional, tampouco aconteceram debates consistentes para se discutir as teses e bases para a criação dessa federação. Pode-se tomar tão impactante decisão sem se ouvir as bases partidárias?

Até aqui, por tudo o que vi e acompanhei do processo deliberativo sobre a formação da federação, parece-me que aguarda-se dos membros do partido tão somente um referendo acrítico.  A democratização partidária, no entanto, deve exigir, no mínimo, um modelo plebiscitário. Neste sentido, causa-me grande preocupação a verticalização das decisões do partido e a nulidade dos debates internos.

O Diretório Nacional, a meu ver, tem funcionado unicamente como uma mera instância que respalda o processo decisório da cúpula, sem dela participar. Esse desenho institucional não contribui em nada para o crescimento orgânico do partido.  


Annalene Baerbock, líder do Partido Verde alemão apresenta
Programa de Governo. Março de 2021. Photo by Sean Gallup/Getty Images


Minha posição (exclusivamente pessoal enquanto membro do Diretório Nacional do PV) é de que precisaríamos de instâncias horizontalizadas de deliberação - o DN poderia e deveria cumprir esse papel. Em meio a tanta tecnologia, por que não implementar um robusto instrumento de participação e deliberação interna?  Os novos tempos estão a exigir isso dos partidos. É preciso não ignorar esses sinais. Senão, como falaremos de democracia em nossos programas, carta de princípios e nos manifestos, se sequer  a praticarmos internamente?

Não foi por acaso que o sistema partidário brasileiro colapsou e possibilitou o surgimento do Bolsonarismo. Os partidos, sobretudo os de matizes ecológicos, precisariam aprender com todo esse processo e melhorar a sua governança e mecanismos internos de transparência, participação e deliberação. Mas não é o que temos acompanhado. Infelizmente. A maioria de nós toma conhecimento apenas pela imprensa o que se deveria publicizar após amplo debate interno.   

A pergunta incômoda que faço é: os dirigentes partidários querem mesmo um partido político democrático ou se aterão eternamente aos anacrônicos modelos baseados no cupulismo?   

Era o momento de discutirmos as estratégias dos verdes brasileiros diante de um cenário em que  a ecologia política tem conquistado cada vez mais corações e mentes pelo mundo. O bonde da história está passando, nossas narrativas históricas estão sendo apropriadas e estamos nos apequenando.  

Recuso-me a entrar no mérito da criação da federação. Não é sobre isso que estou escrevendo. É sobre a necessidade de se pensar sobre participação, governança democrática e princípios numa agremiação partidária. 

É como diz aquele velho provérbio: “A palavra inspira, mas o exemplo arrasta”. Definitivamente, precisamos da práxis democrática, para além das meras palavras que inspiram, estas aliás estão fartamente descritas em nossos documentos fundacionais.



Alisson Diego Batista Moraes
Secretário de Mobilização do PV/MG 
Membro do Diretório Nacional do PV


* https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/12/4972570-partido-verde-apoia-lula-e-aprova-federacao-com-pt-psb-e-pcdob.html

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

A casca dourada e inútil das horas

Alisson Diego *

Foto de Mario Quintana em 1986
Créditos: Dulce Helfer / Agencia RBS


Muitas temáticas caberiam neste texto. Poderia abordar a COP 26, a propalada Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, avaliar os números recordes sobre o desmatamento na Amazônia, analisar as mudanças na Academia Brasileira de Letras (ABL) com os ingressos de Gilberto Gil e Fernanda Montenegro, escrever a respeito da possível candidatura do ex-ministro Sérgio Moro à presidência da República ou ainda refletir sobre o “fim da pandemia de Covid-19” ou o recrudescimento da mesma, haja vista a nova variante ômicron. Todavia, o Flávio Lara me comunicou que esta edição do Jornal Cidades é a derradeira de 2021. Por essa razão, esta coluna trará tons mais poéticos e, por ora, me distancio um pouco de quaisquer reflexões mais sisudas.

Chegar ao fim do ano significa, necessariamente, refletir sobre os meses que passaram desde janeiro. Impossível não o fazer ou não se influenciar com o clima natalino e de encerramento de ciclo. Desde que o ser humano recortou o tempo, necessitamos avaliar o passado, sobretudo o passado recente, para assim planejarmos, ainda que minimamente, os próximos passos de nossas vidas e nos blindarmos um pouco do imponderável. Não conheço uma pessoa sequer que não passe, em alguma medida, por essa fase de autorreflexão nesta época do ano.

Se por um lado, pensar demais e planejar em excesso pode ser causa de inevitáveis frustrações e balanços decepcionantes ao se constatar metas traçadas e não cumpridas, por outro a ausência de se planejar o futuro pode significar a tão criticada “vida irrefletida” tal qual mencionada por Sócrates, o filósofo grego do qual todos somos um pouco herdeiros. Particularmente, fico no meio do caminho, entre o planejar e o deixar levar. Planejo o “planejável” e deixo levar o que não tenho domínio, bem na linha dos filósofos estoicos (ao leitor que não conhecer o estoicismo, sugiro uma pesquisa e a leitura de Meditações de Marco Aurélio). Aos 36 anos de idade, aprendi que o tempo corrige muitas coisas que nós não dominamos. Aprendi também que, para outras coisas, somente o rigor de uma boa e sistemática organização é capaz de garantir um bom resultado.

Sobre a temática do tempo, muito nos ensina Mario Quintana, o icônico jornalista e poeta  gaúcho falecido em 1994 aos 87  anos. Ele é o poeta predileto da escritora itaguarense Neusa Sorrenti. Mario é autor de um poema conhecido pelo título "O Tempo”, mas que tem como título original "Seiscentos e Sessenta e Seis”, publicado na obra Esconderijos do Tempo, em 1980, que lhe rendeu o renomado Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras (ABL). Para se ter ideia da popularidade deste poema, há milhares de citações sobre ele na internet, além de diversas adaptações e releituras. Uma dessas adaptações adorna uma parede no mítico Bar do Zão em Itaguara.

E o que diz o tal poema famoso? Leia você mesmo(a), estimado(a) leitor(a):


“A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. / Quando se vê, já são 6 horas: há tempo / Quando se vê, já é 6ª-feira… / Quando se vê, passaram 60 anos! / Agora, é tarde demais para ser reprovado…/ E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade, / eu nem olhava o relógios / seguia sempre em frente…/ E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.”


A grande mensagem contida nos nove versos de Quintana é a premência da vida. Isto é, “viver ultrapassa qualquer entendimento”, como diria Clarice Lispector: O dilema existencial do poeta gaúcho pode ser sentido ao ler esses versos. Dilema de um homem que estava com 74 anos de idade quando escreveu o poema. Ao forjar estes versos e constatar a passagem implacável do tempo e seus efeitos sobre qualquer   um, ele também parece dialogar conosco e nos aconselhar: “siga sempre em frente... E vá jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.”

O tempo é um dúbio ator: é ele que nos impõe a morte como destino comum, mas também é ele que nos torna humanos, nos oportuniza vencer a mediocridade, reinventar a vida e atribuir significado àquilo que valoramos. É a finitude que torna raros os momentos, belas as horas, emocionantes os encontros, os pores-do-sol, as viagens, os abraços, as memórias... 

É tempo de repensar a vida, de frear o consumismo, de controlar o ego, de se permitir mais, de se cobrar menos, de perdoar mais e julgar menos, de pensar e agir coletivamente, de ressignificar a existência.

Adeus, 2021. Que venha um 2022 sem pandemia, com muita solidariedade, compreensão, tolerância e amor. É esta, aliás, a grande mensagem do maior aniversariante de dezembro: “Este é o meu mandamento:  amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15, 9-17).

Apenas a prática do amor será capaz de salvar a humanidade e a nossa Casa Comum.


* Alisson Diego Batista Moraes - artigo escrito para a edição de dezembro de 2021 do Jornal Cidades (Itaguara/MG).

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Clube Atlético Mineiro: bicampeão brasileiro - Não é (apenas) sobre futebol

Foto com o Manto da Massa. Novembro de 2021.

Não há nenhum grito entalado na garganta.

Não há nenhum choro cinquentenário represado.

Conquistasse agora ou não conquistasse nunca o bicampeonato brasileiro, a minha atleticanidade (e a de milhões de torcedores do Atlético espalhados pelo planeta Terra) não diminuiria sequer 1%.

Isso porque não é por título, é pela história, não é por glória, é pela memória, não é por emoção, é pelo sentimento, não é por pompa, é pela identidade. Identidade que não se basta mineira, tem de ser mineiríssima e estampada do lado esquerdo no peito. Porque só há Clube Atlético se for Mineiro.   ⁣⁣ ⁣⁣ 

Eu confesso que não escolhi ser atleticano na infância. Não são possíveis tais escolhas em tenra idade, a psicologia nos ensina. Foi o meu pai que escolheu por mim. Para ficar perto dele e sentir proteção e acolhimento paternos, comecei a nutrir incomum afeto pelo futebol jogado pelo alvinegro mineiro. Passei a acompanhar regularmente as sagas futebolísticas atleticanas ao lado de meu pai, pelas ondas de um lendário Motoradio preto dos anos 80, movido a seis pilhas grandes e que meu pai carregava para todo lado, não apenas para ouvir os jogos do Galo, mas também para acompanhar os programas esportivos da Rádio Itatiaia. A principal lembrança que nutro de minha infância é esta: final do dia, meu pai com semblante cansado da rotina bancária, no banheiro fazendo a barba e ouvindo as notícias do Galo na Itatiaia naquele inseparável Motoradio.

O afeto filial logo se transformou em um indestrutível sentimento. Sentimento mesmo porque superior à emoção momentânea e frágil. Sentimento porque envolto em alto grau de componente cognitivo e lastreado em múltiplas conexões. Se a emoção é a reação, o sentimento é construção. Se a emoção é a passionalidade, o sentimento é a amabilidade. Amor dura, emoções passam. Por isso, o atleticano não é um torcedor apaixonado como a maioria dos torcedores. O atleticano é, antes de tudo, um amante. Ama seu time, sua terra, a história e cultiva essas sentimentalidades diariamente.

Naqueles primeiros anos de vida, tomei um caminho sem volta: Sem capacidade de racionalizar o que significava aquela fase da vida, eu me tornara, de fato, um atleticano - sentimento único e expresso no verso de Vicente Motta: “uma vez até morrer”.

Com o passar dos anos, mas ainda na pré-adolescência, todo aquele sentimento se transformou em uma escolha - porque, no fim das contas, ao ser humano cabe sempre escolher. Não há (ou não deve haver) grilhões que nos prendam a nada. Foi uma das mais felizes, fiéis e fabulosas escolhas de minha vida. Escolhi ser contracorrente naquele momento no qual o Galo não tinha excelentes perspectivas e enfrentava anos bastante difíceis, não sem destemor e convicção inabaláveis.⁣⁣ ⁣⁣ Se algum dia da minha vida eu pensei em abandonar o Atlético? Nunca. Infidelidade não combina com atleticano.

À medida que eu crescia, reafirmava a minha opção atleticana. Minha atleticanidade só fez crescer quando fui conhecendo a história do meu time: nem bretão, nem ítalo-brasileiro, mas brasileiro mesmo! Essencialmente mineiro, orgulhosamente belorizontino,  dotado de sublime autenticidade desde sua gênese.

Quando caímos para a série B, renovei, com todas as minhas forças, a minha relação com o Clube Atlético Mineiro. Era Minas Gerais que havia caído. Era toda uma nação que, entre lágrimas, cantava o hino do time no pior momento da história e sofria com o descenso; sem perder o brio, a dignidade e a esperança.⁣⁣ Jamais me esquecerei daquela partida contra o Vasco. No Mineirão lotado, n⁣em uma cadeira quebrada, nem um xingamento, nem uma lata de cerveja arremessada. Apenas pranto e esperança. Ao final do jogo, lembro-me que o ônibus do time foi cercado pela torcida, não para brigar contra o leite derramado, mas para cantar o hino e apoiar mais uma vez a equipe. Nem a tristeza mais dolorosa foi capaz de afastar a Massa de seu time.

Aprendemos, desde muito cedo, que tanto na vida quanto nos gramados é preciso “lutar, lutar, lutar, com toda nossa raça pra vencer”. E como lutamos, time e torcida, Massa e Manto, juntos! ⁣⁣Como não poderia deixar de ser, o Atlético subiu no ano seguinte numa campanha mágica e com a torcida, mais uma vez, demonstrando porque é especialmente única.

Todos os atleticanos sabemos muito bem que o Clube Atlético Mineiro, o nosso amado Galo, nunca significou apenas uma paixão por um clube de futebol. É muito mais que isso. Sempre foi muito mais que isso.⁣⁣ ⁣⁣ 

Quando o meu pai dessa existência partiu, inesperada e dolorosamente, em 2013, o meu maior alento foi que ele viu o título da Copa Libertadores da América vencida heroicamente pelo Galo. A vitória ocorreu apenas algumas semanas antes de sua precoce partida. Nunca o vi tão feliz em toda a minha vida. Aquele título foi o verdadeiro e consolador canto do cisne. 

Definitivamente, não é sobre 11 homens correndo atrás de uma esfera de ar revestida por couro sintético.

Então é sobre o quê? 

É sobre o Mineiro estampado no peito, é sobre nossa Minas Gerais que tanto amamos, é sobre origens comuns, é sobre aprendizados e superação, é sobre autoafirmação e sociabilidade, é sobre o sangue de meu pai e meus avós que corre, geneticamente alvinegro, em minhas veias latinas, é sobre resiliência e amor - genuíno, desmedido, ilimitado amor. ⁣

É ainda sobre brasilidade em nosso sangue e a mineiridade em nossa alma. ⁣⁣ ⁣⁣ 

No fim das contas tudo advém da mesma fonte: do amor. É sobre amor. Sempre foi.⁣⁣

O futebol nos ensina isto: o ser humano é capaz de superar, se emocionar e, humanamente, sentir. Não há salvação onde não há sentimento. E ser Atleticano é transbordar sentimento! 

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Plano de Metas de Itabira é apresentado à comunidade

Alisson Diego apresenta o Plano de Metas - por Filipe Augusto 
Coordenadoria de Comunicação da Prefeitura de Itabira

Na última sexta-feira (01/10), o prefeito de Itabira, Marco Antônio Lage, apresentou para a comunidade itabirana o Plano de Metas Itabira Agora. No formato híbrido, a cerimônia de divulgação do instrumento foi realizada no auditório da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade e contou com a presença dos secretários, vereadores e representantes da sociedade civil. A população pode acompanhar a apresentação no canal do Youtube da Prefeitura.  

O Plano de Metas “Itabira Agora” é produto do planejamento municipal, com previsão no artigo 99-A da Lei Orgânica Municipal, e elenca as principais ações da administração 2021-2024. Para elaborar o plano, foram feitas discussões com todos os órgãos da Prefeitura a fim de definir os indicadores e as metas que permitirão o monitoramento da evolução dos resultados durante os quatro anos. Ao todo, o plano lista 36 programas, 97 projetos e 169 metas associadas (entre primárias e secundárias).

Foto: Filipe Augusto 
Coordenadoria de Comunicação da Prefeitura de Itabira


Coordenador do Plano de Metas, o assessor de Projetos Estratégicos da Prefeitura de Itabira (cargo equivalente a secretário), Alisson Diego, afirma que o documento é importante, pois prevê investimentos estruturantes para os próximos quatro anos, contando com 2021.  “É uma oportunidade significativa que Itabira tem para trabalhar a diversificação econômica, qualidade de vida, desenvolvimento humano, infraestrutura, sustentabilidade, trabalhar a governança, além de ter eficiência, produtividade e pensar sempre na qualidade da prestação dos serviços públicos aos itabiranos e itabiranas”, reforçou o assessor.  

O documento não tem pretensão de ser definitivo. É um planejamento aberto a permanentes contribuições, contando com a participação da população desde a construção da agenda até a avaliação. “A proposta é mudar a realidade de Itabira nos próximos anos, modernizando a cidade e valorizando as pessoas. É importante pensar não só na estrutura da cidade, mas também na qualidade de vida das pessoas. É um plano que tem esse olhar: humano e de desenvolvimento”, reiterou Alisson.

Para pontuar as diretrizes e traçar estratégias para o desenvolvimento da cidade, foram definidos eixos de trabalho: Governança; Eficiência e Produtividade; Desenvolvimento Humano e Qualidade de Vida; Infraestrutura, Sustentabilidade e Urbanismo e Desenvolvimento Econômico e Inovação.

A versão final do Plano de Metas Itabira Agora está sendo revisado e será disponibilizado de maneira ampla à comunidade.


* Com excertos e fotos da Coordenadoria de Comunicação da Prefeitura de Itabira

** Link com a matéria completa: https://www.itabira.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/marco-antonio-apresenta-plano-de-metas-com-os-principais-projetos-para-a-gestao-2021-2024/205096

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Plano de Metas de Itabira-MG 2021-2024: Prefácio

Alisson Diego por Filipe Augusto - 
Ascom PMI - setembro de 2021.


Prefácio do Plano de Metas 

"Itabira Já: 2021-2024"


Ainda é um verdadeiro tabu planejar a gestão pública municipal fundamentada em metodologias claras e políticas públicas baseadas em evidências. A maioria das cidades apenas constrói, por formalidade, seus planejamentos, ficando a reboque das decisões da União e dos estados. 

No Brasil, entretanto, o Município, como ente federativo, deve ser protagonista na formulação de políticas públicas e na construção de programas e projetos de acordo com o contexto local. 

A gestão 2021-2024 de Itabira demonstra pioneirismo e coragem disruptiva ao construir um vigoroso planejamento estratégico municipal, integrando PPA, LOA, LDO, Plano de Metas, além de Plano Diretor e outros instrumentos de desenvolvimento municipal. Uma construção realizada por equipe própria, sem a contratação de consultorias externas, valorizando, assim, o serviço público e propiciando um verdadeiro legado de aprendizagem administrativa para a cidade. 

Modelar o futuro de Itabira não é tarefa apenas dos gestores públicos e isso está claro na mensagem deste plano. À vista disso, o prefeito Marco Antônio Lage abre-se à participação popular e reafirma o seu compromisso com a construção de uma cidade de todos, com base na inclusão, na sustentabilidade, no desenvolvimento humano, na cidadania, no desenvolvimento econômico e na qualificação da democracia a partir da realidade local. 

A gestão de Itabira projeta luzes democráticas, temperantes e de eficiência administrativa num país ainda tão marcado pelo autoritarismo, pela intolerância, pelo clientelismo e pela ineficiência da gestão pública em suas diversas esferas. 

Esta assessoria contou, na coordenação dos trabalhos e durante todo o processo de formulação deste plano estratégico, com o apoio decisivo de todo o secretariado municipal e suas equipes estratégicas. A todas e todos, são devidos os mais sinceros agradecimentos. 

Como diz o poeta: “Sonho que se sonha só É só um sonho que se sonha só Mas sonho que se sonha junto é realidade”. 

Este planejamento não é o fim. Mas um início. Um alvissareiro início. 


Vamos ao trabalho.


Itabira, 01º de outubro de 2021.


Alisson Diego Batista Moraes
Assessor de Projetos Estratégicos 
Coordenador do Plano de Metas de Itabira 2021-2024
Prefeitura de Itabira-MG

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Igreja Católica: a favor da vida, ao lado do povo e em defesa da democracia

Alisson Diego *


Em meio a tantas destemperadas manifestações políticas delirantes ocorridas no dia 7 de setembro, algumas posições firmes em defesa da democracia merecem os aplausos de todos os democratas brasileiros. Além de movimentos sociais e políticos, setores importantes da indústria e do agronegócio se manifestaram, veementemente, em defesa do Estado Democrático de Direito, opondo-se aos desvarios golpistas do presidente Bolsonaro e seus asseclas mais “intransigentes”.

No fim de agosto, entidades do setor agroindustrial divulgaram uma nota em defesa da harmonia político-institucional e salientaram a preocupação com a instabilidade econômica e social no país. "As amplas cadeias produtivas e setores econômicos que representamos precisam de estabilidade, de segurança jurídica, de harmonia, enfim, para poder trabalhar", expressa relevante trecho do comunicado.

O posicionamento mais vigoroso, no entanto, não partiu do mercado ou do mundo político, mas da Igreja Católica, mais precisamente da CNBB, a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil. O documento se destaca pela defesa consistente do sistema democrático e pelo tom assertivo e notadamente contrastante aos valores do bolsonarismo.

Mais do que um recado indireto, a Igreja Católica, na voz de dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte e presidente da CNBB, enviou uma mensagem direta para Bolsonaro e seus prosélitos ao afirmar: “Não se deixe convencer por quem agride os poderes Legislativo e Judiciário. A existência de três poderes impede a existência de totalitarismos”. O arcebispo argumenta que não é possível aceitar, independentemente das convicções político-partidárias de cada um, agressões aos pilares que sustentam a democracia. Agredir, eliminar, hostilizar, ignorar ou excluir, de acordo com Dom Walmor, são verbos que não combinam com um sistema democrático.

O arcebispo destaca, ainda, a Encíclica Fratelli Tutti (Todos Irmãos), publicada pelo Papa Francisco, em outubro de 2020, e que deve inspirar cuidados com aqueles que sofrem. “A fome é realidade de quase 20 milhões de brasileiros. Aquele pai que não tem alimento a oferecer para o próprio filho é seu irmão. Nosso irmão. Do mesmo modo, a criança e a mulher feridas pela miséria são suas irmãs, nossos irmãos e irmãs”, disse Dom Walmor.

O presidente da CNBB defende que os católicos e cristãos não podem ficar indiferentes à realidade que mistura desemprego e alta inflação, num contexto agravado pela pandemia, situação que acentua as exclusões sociais. A saída, argumenta dom Walmor, está na implementação urgente de políticas públicas que garantam a retomada da economia e a inclusão dos mais pobres no mercado de trabalho.

Aos armamentistas insensatos (não aqueles que praticam tiro esportivo, por exemplo, mas aqueles que prestam idolatria às armas e reforçam uma cultura “anti-paz”), Dom Walmor envia mais um recado direto: “Quem se diz cristão ou cristã deve ser agente da Paz e a paz não se constrói com armas. Somos todos irmãos. Esta verdade é sublinhada pelo Papa Francisco na carta encíclica Fratelli Tutti”. 


Papa Francisco acena aos fiéis no Vaticano /
Crédito editorial: Neneo / Shutterstock.com

Ao demonstrar um raro senso histórico, em harmonia com o pensamento vanguardista decolonial, que tem crescido exponencialmente nas universidades e precisa ganhar a consciência popular, Dom Walmor sentencia: “Nossa pátria não começa com a colonização europeia. Nossas raízes estão nas matas e florestas, num sinal claro nos ensinando que a nossa relação com planeta deve ser pautada pela harmonia. Os povos indígenas, historicamente perseguidos e dizimados, enfrentam graves ameaças do poder econômico extrativista e ganancioso que tudo faz para exaurir nossos recursos naturais”.

As palavras da CNBB, vocalizadas pelo arcebispo belorizontino, são assertivas e muito bem-vindas num tempo em que a outrora sonhada concórdia tem dado lugar, cada vez mais, a um divisionismo inaceitável no seio da sociedade brasileira, estimulado pelos reiterados discursos de ódio patrocinados pelo bolsonarismo. Se o presidente da República não passa de um desprezível tiranete ou como diria meu avô: “um político bobo de inteligência curta”, os seus discursos delirantes e odiosos impactam muitas pessoas ingênuas que não conseguem ultrapassar as maledicentes narrativas de WhatsApp.

Posicionamentos firmes e coerentes, como este da CNBB, são imprescindíveis no combate ao fanatismo e à ignorância. É preciso proclamar consciência cristã, racionalidade e senso histórico a essa gente inescrupulosa que sequestra os símbolos nacionais, manipula a religiosidade alheia e se esconde por trás de malfeitos indefensáveis (“rachadinha”, por exemplo, é um nome eufemístico utilizado por parte da mídia para abrandar os crimes gravíssimos cometidos pela família Bolsonaro: organização criminosa, lavagem de dinheiro e peculato, conforme consta da denúncia do Ministério Público).

Sabemos que não há cenário para um golpe de Estado, ao menos não um golpe clássico engendrado na caserna como o ocorrido em 1964. Sobretudo, por fortes pressões internacionais, um regime autocrático no Brasil de hoje não duraria nem seis meses. O que está em jogo, portanto, é a defesa da democracia enquanto ambiente político necessário ao amplo desenvolvimento humano e, por consequência, o desenvolvimento da própria nação brasileira. Trata-se de enxergar o outro(a) como irmã/irmão e não como alguém a ser eliminado(a) por pensar diferente, trata-se de respeitar o outro(a) em suas diferenças e não o ridicularizar por isso, trata-se de buscar um espaço de convergência e diálogo e não estimular o conflito e a indiferença. Quando se fala em democracia e valores cristãos, fala-se, precipuamente, em solidariedade e tolerância.

A Igreja Católica, na representação de Dom Walmor e da CNBB, ao reforçar o compromisso com a democracia e refutar os antivalores disseminados pelo bolsonarismo, atesta que os verdadeiros princípios cristãos somente se realizam plenamente se harmonizados com os valores democráticos.

 

* Artigo publicado pelo Jornal Cidades em setembro de 2021.

sábado, 11 de setembro de 2021

PPA Itabira 2022-2025

A seguir, matéria da Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Itabira sobre a apresentação do Plano Plurianual, que aconteceu nesta sexta-feira, às 14h.



PPA apresenta metas e projetos para cinco eixos de desenvolvimento na Prefeitura de Itabira


A Prefeitura de Itabira apresentou, na tarde desta sexta-feira (10), em formato on-line, o Plano Plurianual (PPA) 2022/2025 e a minuta do projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA) para o exercício de 2022. A audiência pública foi promovida por meio da Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão (Seplag), no auditório do paço municipal, com transmissão pelas redes sociais Facebook, Instagram e YouTube. Participaram da audiência os secretários municipais Patrícia Alves Guerra (Seplag), Gilberto Ramos (Fazenda) e Alisson Diego Batista (Assessoria de Projetos e Captação de Recursos).  

A apresentação elencou as principais diretrizes, programas e metas para os próximos quatro anos, distribuídas em cinco eixos estratégicos: Governança; Eficiência, Resiliência e Produtividade; Desenvolvimento Humano e Qualidade de Vida; Sustentabilidade e Urbanismo; e Diversificação Econômica e Inovação. A relação completa de projetos, com detalhamentos sobre prazos e custos, será apresentada pelo prefeito Marco Antônio Lage, ainda neste mês de setembro, em evento a ser agendado para exibição do Plano de Metas 2021-2024. 

Eixos

Segundo Alisson Diego Batista, Itabira inova ao adotar a metodologia de intersetorialidade das políticas públicas por meio dos cinco eixos estratégicos. Para o assessor, tais eixos propiciam a integração das ações governamentais e auxiliam na compreensão das inter-relações das diversas unidades orçamentárias. “A divisão nessas áreas temáticas também auxilia tanto no monitoramento quanto na avaliação dos resultados por eixo, permitindo aperfeiçoar, continuamente, as políticas públicas municipais”, explicou.  

No eixo Governança, que envolve as secretarias municipais de Auditoria Interna e Controladoria, Gabinete do Prefeito, Governo e Procuradoria Jurídica, a proposta é implementar políticas públicas para mais eficiência dos serviços da municipalidade, com transparência, integridade e a participação popular em todas as ações da administração municipal durante os anos de 2022 a 2024. O objetivo é criar uma cultura político-administrativa para alcançar a cidadania na centralidade das iniciativas governamentais.  

Sobre Eficiência, Resiliência e Produtividade (secretarias municipais de Planejamento e Gestão, Fazenda e Itabiraprev), Patrícia Guerra explicou que a meta é tornar o relacionamento entre a Prefeitura e os cidadãos mais efetivo, como, por exemplo, implementar melhorias na gestão municipal a fim de simplificar os processos para os contribuintes e disponibilizar todo o acesso às informações municipais de forma adequada.  

Com relação ao Desenvolvimento Humano e Qualidade de Vida, o objetivo é promover a cidadania e tornar a cidade mais justa, humana e desenvolvida. “Vamos nos aprofundar em políticas públicas de combate à desigualdade em todas as suas formas e possibilitar a emancipação daqueles socialmente vulneráveis com a construção de uma Itabira mais integrada e com oportunidades para todos”, disse Patrícia Guerra. Fazem parte deste eixo as secretaria municipais de Assistência Social, Educação, Esportes, Lazer e Juventude, Saúde e Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade.  

Proteger, regenerar e aprimorar a infraestrutura e a qualidade ambiental de Itabira, além de promover o uso sustentável dos espaços públicos são as prioridades citadas no eixo Sustentabilidade e Urbanismo. Assim, caberá às secretarias municipais de Obras, Transporte e Trânsito, Desenvolvimento Urbano, ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) e à Empresa de Desenvolvimento Urbano de Itabira (Itaurb) transformar Itabira em referência em sustentabilidade e mobilidade.  

O eixo Diversificação Econômica e Inovação será trabalhado por meio das secretarias municipais de Agricultura e Abastecimento e Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia, Inovação e Turismo. A proposta do governo municipal neste segmento é promover o desenvolvimento socioeconômico buscando a diversificação para emancipar a cidade da dependência do minério de ferro e torná-la mais dinâmica, produtiva, digital e sustentável.  


Planejamento estratégico  

Em mensagem que constará no projeto a ser enviado à Câmara de Vereadores, o prefeito Marco Antônio Lage explicou que o PPA é o mais importante instrumento de planejamento estratégico para nortear as ações do governo municipal na implantação das políticas públicas.  “Neste momento especial da vida política e administrativa de Itabira, sou duplamente movido: pela emoção e pela responsabilidade de governar um Município cuja história se confunde com a história do Brasil e de Minas Gerais. Os imensos desafios que precisamos enfrentar, neste primeiro quarto de século, exigem de todos nós – sociedade civil itabirana, empresários e trabalhadores, comunidades rurais e urbanas, Governo e Legislativo – uma inquebrável união em prol de objetivos maiores que nossas cores partidárias e superiores às nossas cosmovisões. Há um município que é maior do que nós e nossos anseios pessoais – e é a ele que devemos respeito e fidelidade. Esse PPA é o resultado de uma construção coletiva e democrática, baseado em compromissos assumidos desde o ano passado e referendado pela população”, escreveu.  

LOA

A Lei Orçamentária Anual (LOA) para o ano de 2022 também foi apresentada pela secretária Patrícia Guerra. A receita estimada é de R$ R$ 923.955.990,00, incluindo Itaurb, Saae, FCCDA e Câmara de Vereadores. Para o eixo Desenvolvimento Humano e Qualidade de Vida estão previstos R$ 356,9 milhões; para Sustentabilidade e Urbanismo, R$ 281,3 milhões; para Eficiência, Resiliência e Produtividade, R$ 114,5 milhões; para Governança, R$ 92,6 milhões; para Diversificação Econômica e Inovação, R$ 54,7 milhões; e para a Câmara de Vereadores, R$ 23,7 milhões.  

O secretário de Fazenda, Gilberto Ramos, comentou que o eixo Diversificação Econômica e Inovação, fundamental para o presente e futuro de Itabira no pós-mineração, tem orçamento menor porque é a área que está diretamente relacionada às parcerias com a iniciativa privada, especialmente a Vale. “Contamos com esse reforço dentro de todas as conversas e negociações que ocorrem desde o início da gestão. Então, não podemos contar ainda com esse recurso, mas certamente teremos uma complementação”, explicou.  

Entenda  

Previsto na Constituição Federal, o PPA estabelece as diretrizes, objetivos e as metas da administração pública no período de 2022 a 2025. Fazem parte do PPA programas e ações que serão transformados em bens e serviços para a comunidade em médio prazo, buscando atender às demandas da população. Já a LOA apresenta as estimativas dos recursos a serem arrecadados pelo Município e a destinação desses valores no próximo ano.  

A comunidade itabirana pode contribuir na elaboração do PPA, apontando onde e como os recursos públicos podem ser aplicados. Um formulário para sugestões será disponibilizado no portal da Prefeitura: o prazo para preenchimento começa nesta sexta-feira (10), a partir das 15h, e termina às 13h do dia 13 de setembro. Sugestões também podem ser encaminhadas pelo e-mail seplag@itabira.mg.gov.br. 

Outra forma de participação é pela consulta pública digital disponível no aplicativo Colab, lançado no dia 31 de agosto pela Prefeitura. A ferramenta de gestão colaborativa pode ser acessada no endereço https://www.colab.re/ ou baixada nos smartphones com sistemas operacionais Android e iOS. O período da consulta pública já começou e a população tem a oportunidade de indicar quais são as prioridades que o governo municipal deve considerar nos próximos quatro anos.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Homenagem à Maria Geralda Costa

A seguir, compartilho texto escrito para um livro organizado pela presidente da Casa de Dona Dorica, Maria Luiza da Silveira, e pelo bispo da Diocese de Oliveira-MG, Dom Miguel Ângelo Freitas Ribeiro, em homenagem à educadora itaguarense Maria Geralda Costa.


O maior legado é a inspiração *


Lançamento de O Tempo e as Estrelas em 2014

Era um friorento anoitecer de um sábado julino em Itaguara. O ano era 2001 e, naquela época, acontecia o I Festival de Inverno. Aos 16 anos de idade, eu atuava, como membro do Grupo Municipal de Teatro Vidas em Artes, em uma peça teatral que retratava aspectos pitorescos da vida de João Guimarães Rosa em Itaguara. A autora do roteiro era justamente Maria Geralda Costa.    O local escolhido para a encenação não havia sido o mais adequado: uma tenda simples e sem fechamentos laterais, instalada na parte de cima da Praça da Matriz. Além de a acústica não favorecer, havia uma competição sonora entre nossas vozes e os múltiplos ruídos dos bares.

Por essa razão, tivemos, todos os participantes daquela peça, de aumentar consideravelmente o nosso tom de voz, de modo que precisávamos quase gritar para que fôssemos ouvidos pelo público. Por força do destino ou forçada coincidência, a personagem que eu interpretava era o meu bisavô, João Batista da Silveira, que havia sido amigo e paciente do jovem Doutor Rosa nos anos 30. Um homem de poucas e assertivas palavras, um contemplador de silêncios – assim o conheci, uma paradoxal imagem da interpretação que eu imprimi ao personagem naquele sábado. 

Dona Maria Geralda Costa, que estava assistindo àquela apresentação, não gostou nada do que testemunhou e teceu críticas veementes, tanto ao corpo de atores quanto à prefeitura. Lembro bem de suas palavras: “O seu bisavô jamais esbravejaria como você nesta peça. Era um homem que falava baixo e educadamente. Vocês todos estão mais para uma banda de rock do que para um grupo de teatro. Deveriam refazer essa apresentação.

Alguns reclamaram do tom da crítica, mas eu a levei como uma observação construtiva. O prefeito Bira e a secretária de Cultura, Terezinha Mary, ouviram também as críticas e interpretaram-nas como uma necessária correção de rota daquele festival. Eventos teatrais não poderiam, de fato, rivalizar com bares e precisariam de local e horários mais apropriados.

A peça foi reapresentada dias depois, no Salão Paroquial, ainda dentro das programações daquele pioneiro festival. Ao fim da reapresentação, as palavras de Dona Maria foram: “Agora ficou ótimo. Atores calmos e falas serenas. Vocês retrataram muito bem as personagens e o tempo histórico. Honraram a alma de Guimarães Rosa, João Batista, Pedro Silva, Antônio Moraes e os demais personagens. Estou muito orgulhosa de vocês. Eu sei ser crítica, mas também sei ser elogiosa”.

Havia muitas maneiras de homenagear a Maria Geralda Costa, mas quis contar essa história porque ilustra muito bem a personalidade forte ladeada pela generosidade compreensiva que ela possuía. Jamais elogiava por elogiar, mas jamais deixava um elogio sincero passar. Era mulher de fé, de caráter sóbrio, de alma rara, de coração puro e de posições firmes. Sobre sua fé cristã, Maria Geralda jamais a desvencilhou de sua existência. Sua atuação comunitária é, até hoje, um inequívoco exemplo para toda a Diocese de Oliveira. Lembro-me de encontrar com ela, já octogenária, algumas vezes, aguardando o ônibus para Oliveira, a fim de conversar com o Dom Miguel assuntos referentes à Pastoral da Criança. Do mesmo modo, participei, ao lado dela e de Maria Luiza, de dezenas de reuniões e celebrações na Casa de Dona Dorica. Onde houvesse um bom projeto filantrópico e humanista, lá estava Dona Maria Geralda Costa.

Dos tempos em que fui vereador e prefeito, guardo ainda muitas recordações de Dona Maria, como quando me presenteou com um livro: A Doutrina Social da Igreja; o regalo veio acompanhado de uma longa conversa a respeito dos descaminhos políticos de nosso tempo e do individualismo que corroía as relações sociais e dinamitava o sentimento de comunidade. Diagnósticos feitos, compartilhávamos de uma mesma certeza: apesar de tudo, não poderia haver espaço para o pessimismo. Construir uma cidade e um mundo melhores dependiam de nossa ação na Terra e era isso o que deveríamos fazer até o fim de nossos dias. Foi exatamente isso o que ela fez.

Maria Geralda Costa deixou o maior legado que se pode deixar neste planeta: a inspiração.


* Alisson Diego Batista Moraes  

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Zuzu, Henrique e Paulo: Centenárias Inspirações

Zuzu Angel, mineira de Curvelo

   

    Dizem que o povo brasileiro tem a memória curta. Ao menos é isso o que ouvimos desde crianças. Essa afirmação serviria para justificar, dentre outras desvirtudes, porque votamos em velhos políticos ineptos e/ou corruptos e porque temos tão poucos museus e centros de memória (dos 5.565 municípios brasileiros, cerca de 80% não têm sequer um museu).

    Falta-me um estudo consistente para refutar ou aquiescer com essa história de memória curta do nosso povo, mas pela via das dúvidas, quero aproveitar a minha volta aos quadros deste jornal para lembrar de três formidáveis compatriotas que merecem ser rememorados e contumazmente homenageados neste ano, em celebração ao centenário de seus nascimentos. São eles: Henrique Cláudio de Lima Vaz, Paulo Reglus Freire e Zuzu Angel. Um dos maiores filósofos de seu tempo, o maior educador brasileiro e a maior estilista da história de nosso país respectivamente – três personalidades que iluminaram as suas áreas de atuação e se tornaram verdadeiros ícones para o mundo. Mais circunstanciadamente podemos dizer que são dois mineiros e um pernambucano, geográficas identidades irrenunciáveis por detrás de suas brasilidades. 

    Zuzu Angel, mineira de Curvelo e criada em Belo Horizonte, nascida em 05 de junho de 1921, foi uma das maiores estilistas de seu tempo. Gostava de ser chamada de “costureira” para romper com os preconceitos com que a profissão era tratada em sua época. Recebeu elogios dos maiores críticos do mundo da moda por sua ousadia e por mostrar a brasilidade nas vestimentas, antes eclipsada pela alta costura francesa. Tornou-se ícone não apenas pela fama de estilista, mas, sobretudo, por seu engajamento político. Ela e seu filho, Stuart Jones, foram assinados cruelmente pela ditadura militar brasileira. 

    Sua história está imortalizada nos versos e na voz de Chico Buarque, na bela e triste canção Angélica (1977): “Quem é essa mulher / Que canta sempre esse estribilho / Só queria embalar meu filho / Que mora na escuridão do mar”. Chico também imortalizou a história de Stuart na imortal letra da canção Cálice (1978): "Quero cheirar fumaça de óleo diesel / Me embriagar até que alguém me esqueça" – versos que fazem referência à forma como Stuart foi torturado e morto: arrastado por uma corda amarrada a um jipe militar pelo pátio da Base Aérea do Galeão, com a boca encostada junto ao cano de descarga até morrer, aos 25 anos, em junho de 1971. 

    Ouro Preto, a eterna capital das Minas Gerais e berço da Inconfidência Mineira, embalou o nascituro Henrique Cláudio de Lima Vaz em 24 de agosto de 1921. O padre jesuíta e professor da UFMG se tornou um dos ícones da filosofia brasileira do século XX. Para ele, a filosofia não poderia ser compreendida tão somente como um exercício intelectual, mas deveria ser tomada como um modo de vida, que confere a quem o exerce grande responsabilidade social. Lima Vaz forjou uma filosofia harmonizada com o humanismo personalista cristão. Autor prolífico de grandes obras filosóficas e de inúmeros artigos em diferentes áreas da filosofia, o ouro-pretano inspirou e segue a inspirar grande número de pensadores. 

    O educador e intelectual Paulo Freire nasceu na capital pernambucana em 19 de setembro de 1921 e dedicou a sua existência a elaborar um método educacional baseado na emancipação popular. Freire, muito atacado e pouco compreendido pela neodireita protofascista e delirante brasileira, é considerado um dos maiores educadores do século XX e o brasileiro com mais títulos honoríficos nas universidades do mundo inteiro. Nas décadas de 60 e 70, Freire trabalhou nos Estados Unidos e na Suíça: foi professor na Universidade de Harvard e atuou no Departamento de Educação do Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra. Não custa lembrar: onde o método freiriano tem sido aplicado contextualizadamente, a educação tornou-se referência internacional. É o caso da cidade de Sobral, no Ceará, que ostenta o título de melhor educação pública do Brasil, com invejáveis índices educacionais europeus. 

    Zuzu, Henrique e Paulo são brasileiros admiráveis. Se as suas surpreendentes histórias não forem capazes de nos inspirar a construir um mundo melhor, é porque, talvez, alguns de nós já não tenhamos apenas memórias curtas, mas caracteres vacilantes.


* Alisson Diego Batista Moraes - artigo publicado no Jornal Cidades (editado em Itaguara/MG) em agosto de 2021.

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Visão de futuro: Prefeitura de Itabira inicia planejamento estratégico com foco em programas e metas

Plano Plurianual (PPA) é construído com base nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU)  




A atual gestão da Prefeitura de Itabira deu início, na última semana, à elaboração no Plano Plurianual (PPA) 2022-2025. O documento é construído com base nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) e permite uma visão estratégica para os próximos anos, com foco em programas e metas pensados por cada secretaria.  

Além do PPA, também é construído o Plano de Metas da gestão para 2021 a 2024. Esse programa estará inserido dentro do Plano Plurianual e ajudará a nortear a execução de ações da atual administração.  

O início da montagem do planejamento estratégico foi marcado por um workshop entre os secretários municipais, o prefeito Marco Antônio Lage e o vice Marco Antônio Gomes, na semana passada, na Fazenda do Pontal. Durante um dia inteiro, os gestores e o primeiro escalão conversaram sobre metas, projetos e programas.  

A coordenação do planejamento é exercida pelo assessor de Projetos e Captação de Recursos da Prefeitura de Itabira, Alisson Diego Batista Moraes. Também estão à frente dos trabalhos os secretários municipais de Desenvolvimento Econômico, Breno Pires, e de Planejamento, Patrícia Guerra, com apoio dos consultores Antônio Claret e Carlito Andrade.  

“Planejamento é mapear onde estamos, para onde vamos e como chegaremos até lá. Por isso, o trabalho é desenvolver metas, programas e projetos factíveis, capazes de levarem Itabira ao futuro sustentável, que é o sentido de tudo que faremos ao longo desses quatro anos. A cidade corre contra o tempo para conquistar a diversificação e isso requer passos bem dados e bem pensados”, comenta Alisson.  





Construção e execução  


A elaboração do planejamento estratégico observa pontos como as necessidades e as prioridades da comunidade; parcerias; monitoramento e avaliação; e construção de mecanismos de governança. Os programas elencados serão trabalhados por meio de “Centros de Resultados” compostos por secretarias que se correlacionam com as outras.  

Os Centros de Resultados serão divididos em áreas como “Desenvolvimento Humano e Qualidade de Vida”, “Diversificação Econômica e Inovação”, “Sustentabilidade e Urbanismo”, “Governança” e “Eficiência, Resiliência e Produtividade”. Cada um desses times terá que apontar seus programas, objetivos, ações relacionadas, as ODSs relacionadas, secretarias envolvidas, metas, indicadores, cronogramas e custos estimados.  

“Estamos falando de pensar agora o futuro que queremos para Itabira e para os itabiranos. Desenhar os caminhos, ajustar as rotas e definir a direção. Construir a nossa visão, colocar no papel os valores. É um trabalho muito importante e que impacta diretamente no sucesso da nossa gestão. Por isso, será feito com muito zelo, dentro daquilo que conversamos com a população na campanha e que é um compromisso nosso realizar”, afirma o prefeito Marco Antônio Lage.

Prazos  Os trabalhos internos para a elaboração do PPA seguem até o dia 4 de junho, quando o plano deverá ser aprovado pelo prefeito Marco Antônio Lage. Depois, até o dia 30 de julho serão promovidas audiências públicas para discutir o planejamento com a comunidade. A última etapa é o envio para a Câmara de Vereadores, com tramitação e aprovação previstas para até 31 de agosto.  


*Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Itabira/MG

Fonte: https://www.itabira.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/visao-de-futuro-prefeitura-de-itabira-inicia-planejamento-estrategico-com-foco-em-programas-e-metas/174678 Publicado em 12/05/2021.

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Deus (ainda) é brasileiro?

Crédito editorial: Shawn Eastman Photography / Shutterstock.com


Quando criança, cansei de escutar dos adultos que Deus era brasileiro (hoje, ainda falam isso, mas acho que o auge dessas afirmações foram os anos 70, 80 e 90 – faltam-me evidências para aprofundar nesta questão que, certamente, tem potencial para engendrar um ótimo ensaio sociológico). Nunca consegui compreender, contudo, o porquê de os adultos daquela época dizerem isso com tamanho entusiasmo ufanista. Eles explicavam, de um jeito meio estranho e impreciso, que nestas terras não havia terremoto, furacões e outras catástrofes naturais, também não havia guerras e aparentes conflitos étnicos – então, concluíam eles, Deus só poderia ter nascido aqui ou, na pior das hipóteses, ter escolhido estas terras como as Suas preferidas dentre Seus infinitos domínios universais.

Fui crescendo e aperfeiçoando o meu espírito mineiro desconfiado, passando a questionar fortemente esses dogmas, meio ufanistas e meio jocosos, dos adultos a respeito da Terra Brasilis. Eu devia ter uns onze anos de idade quando surgiu uma canção do autêntico axé baiano que me ajudou a questionar a brasilidade divina. A música fez muito sucesso em meados dos anos 90 e se chamava “Deus É Brasileiro” do grupo Terra Samba. O compositor da referida canção provocava ritmadamente:

“Ônibus lotado, povo apertado / Será que na vida tudo é passageiro / Um calor danado, povo sem dinheiro / Tenho lá minhas dúvidas se Deus é brasileiro / Deus não pega ônibus, nem lotação / Mas deve ouvir pedidos e reclamação / Não tem cor nem sexo nem estado civil / Coitado se ele for o gerente do Brasil”.     

Quem disse que um bom axé da Bahia não nos pode impelir a reflexões menos rasas? Como se não bastasse o Criador não ser brasileiro, o compositor ainda lamentava: “Coitado, se Deus for o gerente do Brasil”.

Podíamos não ter, historicamente, trágicas guerras e catástrofes naturais em solo brasileiro, mas sempre tivemos violência, fome, desigualdades aberrantes, serviços públicos ineficientes, políticos medíocres e criminalidade em proporções descomunais Continuamos tendo esses mesmos problemas socioestruturais, agora com dois pesados agravantes: 1) a pandemia (líderes mundiais lançaram, nos últimos dias, um comunicado afirmando que a pandemia de Covid-19 é o maior problema da humanidade desde a Segunda Guerra Mundial); 2) o governo de Jair Bolsonaro, considerado o pior do mundo na gestão da pandemia (não entrando em outras idiossincrasias).

A pandemia, há mais de um ano, nos devasta econômica, social e politicamente, além de escancarar muitas de “nossas” mazelas históricas como a desorganização governamental e a crônica dificuldade em cumprir regras sociais. Os problemas são “nossos” sim (faço questão de salientar isso), porque o governo nada mais é do que o reflexo de seu povo – gostemos ou não dessa frase, ela reflete a dura realidade.

Apenas dois países, Brasil e Estados Unidos, dentre as cerca de 200 nações do planeta, ultrapassaram a marca de mais de 3 mil mortes por dia em decorrência do Coronavírus. Somam-se quase 340 mil mortes por Covid no Brasil, quase 30 mil mortes em Minas Gerais e mais de 20 mortes em solo itaguarense, pessoas que conhecíamos e com as quais convivíamos. De acordo com o respeitado cientista Miguel Nicolelis, podemos chegar a 500 mil brasileiros mortos pelo vírus até meados do ano se não houver uma gestão federal mais efetiva. Definitivamente, não há como não reconhecer a gravidade, atestada pelos números assombrosos da Covid-19 em solo pátrio. Os EUA corrigiram a rota ao elegerem Joe Biden, que investiu maciçamente em vacinas e num ousado projeto de recuperação econômica. Por aqui, seguimos a ver navios...

O jornalista e ex-deputado Fernando Gabeira (PV) sintetizou muito argutamente a situação atual do país, em um artigo publicado pelo jornal “O Estado de São Paulo”, no dia 02/04: “Um presidente incapaz, entregue no campo político à voracidade dos seus aliados do Centrão, buscando de todas as maneiras sabotar a luta contra a pandemia – tudo isso compõe um cenário desolador, sobretudo porque a sociedade está reduzida, no momento, a protestos virtuais.” Gabeira termina o seu artigo sentenciando: “Cedo ou tarde, julgaremos Bolsonaro.” Espero que Gabeira esteja certo e que o presidente seja julgado, tanto pelas instâncias judiciais quanto políticas, uma vez que, pela História, o julgamento embora tarde, nunca falha. Não custa lembrar que, na Eslováquia, o primeiro-ministro Igor Matovic e seu governo populista caíram em decorrência da gestão desastrosa da pandemia. Matovic foi o primeiro líder mundial derrubado pela gestão incompetente diante do vírus.

Luiz Gama, Darcy Ribeiro, Maria Quitéria, Juscelino Kubitschek, Tarsila do Amaral, Rui Barbosa, Dom Pedro II e outros tantos brasileiros engajados lutaram intensamente para que se cumprisse a profecia do “país preferido por Deus”, dedicando suas vidas pela soberania e pela grandeza dessa nação. Hoje, eles sentiriam vergonha pelo que se passa nesta terra.

Cristão mediano otimista que quase sou, não quero terminar este artigo com tons desesperançados. Ainda acredito que Deus possa ter um olhar generoso e misericordioso para com o Brasil, afinal de contas, continuamos a ser a nação com a maior biodiversidade do planeta e isso só pode ser graça divina. Por outro lado, creio que alguns dos problemas terrenos, sobretudo os sociais, precisam mesmo ser resolvidos diretamente pelos seres humanos. Penso, inclusive, que Deus espera isso de nós, afinal, dotou-nos da graça do livre arbítrio, temática belíssima e vastamente explorada pela filosofia de Santo Agostinho.

Quiçá, o primeiro dos problemas que devamos resolver por aqui seja aprendermos a escolher melhor os nossos governos. Espero que aprendamos. Outubro de 2022 é logo ali. A depender dos resultados eleitorais, pode ser que o Criador desista de vez de Sua nacionalidade brasileira e destine Seus olhares gentílicos para a Austrália, por exemplo, um país livre da pandemia há dois meses, onde há um governante competente e um povo que cumpre regras.    

* Alisson Diego Batista Moraes, 36, advogado, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, bacharel em Filosofia pela UFMG e mestrando em Ciências Sociais pela PUC Minas. Foi prefeito de Itaguara entre 2009 e 2016. Atualmente, é membro da diretoria executiva do Partido Verde de Minas Gerais e assessor de projetos estratégicos da Prefeitura de Itabira-MG.  


** Artigo publicado no Jornal Cidades, edição de abril de 2021 - Itaguara/MG. 

quarta-feira, 3 de março de 2021

Novos desafios e aprendizagens * *

Prefeitura de Itabira: Créditos Ascom Pref. Itabira
 

    Fui eleito vereador aos 19 anos de idade, mas comecei a minha militância política bem antes, aos 13, envolvendo-me com grêmio estudantil e liderança escolar, isso ainda no ensino fundamental. Lá se vão mais de 20 anos de envolvimentos comunitários e 17 anos desde a primeira eleição da qual participei.

    No mais, a minha trajetória é amplamente conhecida pela grande maioria dos leitores deste jornal e pelos estimados conterrâneos itaguarenses: fui prefeito aos 23, reeleito aos 27, diretor do SAAE de Itaúna aos 31 e secretário de governo e planejamento de Itaúna aos 32, cargo que ocupei até os 34. Apesar dos recém completos 36 anos e a idade ainda me conferir alguma juventude, olho para trás e vejo uma caminhada longuíssima de trabalho e múltiplas experiências. Algumas positivas, outras nem tanto. De todo modo, todas as vivências garantiram-me, até aqui, uma gama de aprendizagens.

    Decidi “dar um tempo” tanto da política, quanto da gestão pública para voltar ao Banco do Brasil em meados de 2019. Fiquei no Banco por mais de um ano, até que recebi um convite irrecusável: auxiliar na elaboração de um ousado planejamento estratégico em Itabira, sobretudo com a exaustão do mineiro de ferro nos próximos anos (convite técnico, feito a partir de meu currículo e não por qualquer indicação partidária).

    A missão da gestão municipal itabirana, neste momento, consiste em estruturar um plano de diversificação e autossuficiência econômica para fazer frente ao rombo estrutural que poderá abalar a cidade com a saída da Vale S.A., a maior multinacional brasileira e uma das principais fontes de arrecadação do município. Itabira é uma das 10 maiores economias do estado, uma das 25 maiores cidades de Minas Gerais (populacionalmente), além de ser a terra do mineiro que mais admiro: Carlos Drummond de Andrade, o poeta maior. Fazer parte do primeiro escalão do governo itabirano é, pois, motivo de imensa honra e inestimável júbilo. De Itaguara para Itabira, são muitas histórias acumuladas nestas quase duas décadas. De Itaguara, guardo a mais terna gratidão e, de Itabira, nutro a mais sincera esperança: é preciso encontrar soluções e implementar mudanças para melhorar a governança pública e, teleologicamente, construir uma sociedade mais justa, fraterna, ecológica e desenvolvida.

    De vez em quando, perguntam-me se eu ainda não me decepcionei com a política ou com a gestão pública (gestão pública e política podem parecer a mesma coisa, mas não são, definitivamente) e eu respondo sonoramente que sim! Meu Deus do céu, como me decepcionei nesta longa caminhada! Quantas vivências com pessoas nefastas, egoístas e “estranhas”. A cada grande decepção, perseguia-me uma gigantesca e angustiante indagação: desistir de vez e cuidar apenas da minha vida ou insistir nos trabalhos coletivos? Houve momentos nos quais decidi, de fato, cuidar de minha existência, quase que de modo ensimesmado. Outras vezes, porém, realinhei as expectativas e decidi voltar a trabalhar pelo coletivo, isso porque a vida, para mim, jamais se reduzirá à mera satisfação de meus desejos e interesses individuais.

    A existência plena e autêntica, diz-nos Aristóteles e tantos outros pensadores notórios, impõe-nos uma atuação na cena pública. Afinal de contas, não vivemos sozinhos e é apenas em comunidade que nos aperfeiçoamos enquanto seres humanos.

* Alisson Diego Batista Moraes, 36, advogado, MBA em Gestão de Empresas pela FGV, bacharel em Filosofia pela UFMG e mestrando em Ciências Sociais pela PUC Minas. Foi prefeito de Itaguara entre 2009 e 2016, atualmente é membro da diretoria executiva do Partido Verde de Minas Gerais e assessor especial de projetos da Prefeitura de Itabira-MG. 


** Artigo escrito para o Jornal Cidades (Itaguara/MG), edição de março de 2021.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Somos todos filósofos nestes tempos de pandemia?

    O popular escritor, jornalista e palestrante norte-americano, Eric Weiner, publicou um artigo, há algumas semanas, no The Wall Street Journal (WSJ) entitulado “Filosofia para um Tempo de Crises” (livre tradução). Weiner defendeu, categoricamente, nas páginas do WSJ que, devido à pandemia que nos acometeu enquanto humanidade, todos os viventes, de uma maneira ou de outra, tivemos de nos colocar diante de nós mesmos e enfrentar nossos piores medos e angústias individuais e coletivos. Isso, por si só, teria recolocado a filosofia (outrora esquecida e relegada às páginas rotas dos livros acadêmicos) novamente na centralidade da vida humana.

    Afora o exagero e a retórica publicitária (típicos de grande parte dos palestrantes e elementos presentes em diversos momentos no artigo referenciado), a argumentação de Weiner faz algum sentido porque o fato é que não houve um ser humano sequer que não tenha sido afetado de algum modo pelos efeitos psíquicos, econômicos, sociais ou mesmo físicos advindos destes tempos pandêmicos.

    Entretanto, não é qualquer filosofia que deve ser evocada nestes tempos, de acordo com o escritor estadunidense. São os antigos gregos e os existencialistas franceses os possuidores da chave da sabedoria filosófica capaz de abrir nossas mentes fechadas e doentias nestes tempos obnubilados e promover uma “cura lenta”. É a filosofia compreendida como “medicina prática e terapêutica para a alma”. Ou seja, o autor está se referindo ao estoicismo e ao existencialismo - duas das mais conhecidas “correntes filosóficas”, distantes temporalmente e conceitualmente, mas unidas, oportunisticamente, pelo jornalista. 

    Sou tomado de um juízo radicalmente crítico quando assisto aos aproveitadores que tentam amoldar o saber filosófico na vala rasa da auto-ajuda ou nos potes diminutos fabricados pelos parlapatões da “onda coach” (ou seria um tsunami?), mas sou igualmente crítico quando os acadêmicos insistem em isolar a filosofia do povo, das ruas e da realidade, adornando-a com uma aura de transcendentalismo e inalcançabilidade. Se o saber filosófico não é algo simplista (e, de fato, não é mesmo), também não pode ser algo apenas adstrito aos muros da academia. A filosofia, como ensinou muito bem Sócrates, pode e deve ser feita a partir das ruas, vencendo os mitos com o exercício da capacidade crítica – questionarmos nós mesmos e também questionarmos o mundo e a sociedade.

    O artigo do Weiner contém algumas inconsistências relevantes, mas reconheço que possui o mérito de tentar (assim como Mário Sérgio Cortella, Karnal, Pondé e outros tantos o fazem) trazer as reflexões (filosóficas ou não) para perto do povo. Isso, seguramente, é muito melhor do que nos acostumarmos à passividade e ao conformismo acrítico. Se obras como a de Weiner ou de Pondé ao menos instigarem a curiosidade intelectual ou existencial já terão cumprido um bom papel. Ao curioso leitor, caberá decidir se aprofundará na busca pelo libertador conhecimento filosófico ou se deixará agrilhoar pelas amarras sociais e culturais tão confortáveis quanto ilusórias.

    Compartilho um trecho do mencionado artigo que, embora simplista, estimula-nos a refletir sobre o papel da filosofia nos dias de hoje: “A filosofia nos ajuda a desembaraçar as complicadas questões éticas levantadas pela pandemia, mas também pode nos ajudar a responder dilemas muito mais pessoais, mas igualmente urgentes: Como suportar o insuportável? Como encontrar certeza em um universo incerto? A filosofia não oferece respostas fáceis, mas reformula nossas perguntas e altera nossas perspectivas - uma habilidade que é útil durante os bons tempos e inestimável nos tempos ruins”.

    Se é verdade que a filosofia nasce do espanto, como argumentou Aristóteles, a Covid-19 pode, ao nos espantar a todos, ter acendido alguma centelha de instigação filosófica em muitas pessoas. Não deixe essa centelha se apagar. Nutra-a com estudos e reflexões.

    PS: Se você, estimado(a) leitor(a), se interessar em adentar no universo filosófico, não sugiro que leia Weiner, mas sim um livro que há muitos anos entusiasma estudantes de todo o mundo e pode ser encontrado facilmente em qualquer livraria ou mesmo em nossa Biblioteca Pública Guimarães Rosa. O livro se chama “O Mundo de Sofia” e o autor é o Jostein Gaarder. Não importa a sua idade, nível de instrução, ocupação profissional ou posição social, se você quer ser instigado(a) pela filosofia, leia este livro!


* Alisson Diego Batista Moraes, 35, bacharel em Filosofia (UFMG), advogado (UIT), MBA em Gestão Empresarial (FGV) e mestrando em Ciências Sociais (PUC Minas). Artigo escrito para a edição de janeiro de 2021 do Jornal Cidades, Itaguara/MG.