sábado, 23 de fevereiro de 2019

Existência Verde: Diálogo e Pacifismo

Alisson Diego e Eduardo Jorge
O grande desafio destes tempos obnubilados é pautar a convivência harmoniosa com a natureza como pré-condição para a vida no planeta. É isso que estamos discutindo aqui na Convenção Nacional do Partido Verde, neste final de semana, em Brasília. Não se trata de uma pauta imediatista e que visa, portanto, ao mero incremento do famigerado desempenho eleitoral. Trata-se de uma visão essencialmente estratégica para a humanidade e de uma discussão sobre o planeta que temos e o planeta que queremos.

Por isso, o tema desta convenção é: “Existência Verde”. É preciso rediscutir o modo de vida focado exclusivamente no consumismo e centrado no ter. A humanidade e a natureza merecem um futuro! Estou convicto de que mais dia, menos dia, o brasileiro sairá da condição de apostador do salvacionismo que tem caracterizado os pleitos nacionais. Há de chegar o tempo da razão, da construção coletiva e da extinção completa do complexo de vira-latas que insiste em nos perseguir.

Saliento que acredito no diálogo construtivo com todos (sem exceção), na coexistência, no pacifismo e no amor - não há política sem essas bases. Não deve haver, pelo menos. Esses e outros temas (Guimarães Rosa e pós-modernismo, por exemplo) tratei com o ícone Eduardo Jorge, inspirador de muitos de nós que almejamos construir um mundo melhor, mais justo, ético, sustentável e consciente.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Um tango para Boechat

Alisson Diego *    

Sou um homem de rotinas. Não me confunda, entretanto, como alguém previsível. A imprevisibilidade faz parte de minha latina personalidade aventureira. Mas da rotina em si mesma eu gosto.

Todos os dias pela manhã, sintonizava o meu dial na Band News FM e começava o dia na companhia de Ricardo Boechat no comando do inconfundível Café com Jornal. Ouvia mais ou menos até o imperdível diálogo com o inoxidável José Simão. E, após me informar, me indignar e rir bastante, ia trabalhar. Foi exatamente assim durante vários anos.     

De dois anos para cá, o hábito matutino passou a ser indesviável. Boechat me acompanhou nas estradas todos os dias de semana. Sim, rigorosamente de segunda a sexta-feira! De Belo Horizonte a Itaúna, de Itaguara a Itaúna... Religiosamente, começava o dia ouvindo e, de certa forma, interagindo com o âncora.    



Meu quase velho Renegade verde está com pouco mais de 90 mil quilômetros rodados. Sem hiperbolizar, posso dizer que pelo menos uns 45 mil passei ouvindo o Boechat. Por isso, a relação não era apenas entre ouvinte e âncora – tornou-se algo mais substancial. Havia ali uma identificação e uma admiração presentes.    

Agora, quando ligo o rádio às 07h30, a voz de Ricardo Boechat, o corajoso jornalista e ávido defensor do interesse público, não está mais lá – para a tristeza geral da nação. Não o ouvirei mais criticar os políticos e os privilégios, rir contagiosamente com o Simão, esbravejar com o Judiciário, indignar com a criminalidade galopante, xingar os bandidos, deblaterar com a impunidade, criticar os falsos profetas e comentar as notícias com argúcia, ancorando a vida diária da gente.    

Não haverá, por ora, voz que me represente, que traduza as minhas desesperanças e esperanças todas ao mesmo tempo (só um brasileiro nato pode entender esse espírito de antíteses constantes), que fale com emoção por mim, que canalize todas as minhas líticas indignações de brasileiro médio, cansado dos mesmos problemas que atravancam o país anos a fio.  

No dia seguinte ao fenecimento de Boechat, meu rádio não conseguiu sintonizar o Café com Jornal. Mas ouvi um tango meio triste em homenagem ao âncora - o mais brasileiro de todos os “argentinos” e o mais latino de todos os brasileiros:    

El Tango de La Muerte   
(Carlos Gardel)    

No tengo amigos,  
no tengo amores,  
no tengo patria,  ni religión.  
solo amarguras tengo en el alma  
y juna malaya mi corazón.  
Mas no por eso yo me lamento  
pues siempre tengo en la ocasión,  
para mis quejas una milonga;  
para mis penas una canción.    

Que me importa de la vida,  
si nadie me va a llorar.  
Quien me lloraba se ha muerto  
y esa muerte me ha matao  
Desde entonces desafío  
al jilguero y al zorzal,  
quien mejor cantando ahoga  
las tristezas de su mal.    

Milonga mía no me abandones,  
Tenerte siempre quiero, a mi lao.  
Que no me falte cuando yo muera
una milonga para cantar.    

Se ele pudesse ler este artigo um tanto quanto sentimentalista (ainda mais com esses versos de Gardel), já o imagino contrariado a rir e retrucar: “Que coisa mais dramática! Menos, bem menos, minha gente... A morte é tão somente um capítulo da vida. Toca o barco”.    

Este neonato 2019 está tragicamente difícil, mas é preciso tocar o barco. Toquemo-lo!    

* Alisson Diego Batista Moraes.    

PS: Como não poderia deixar de acontecer nestes tempos insanos, haters, radicalistas e desinformados infestaram as redes sociais de infâmias e mentiras após a morte de Boechat. Quem o acompanhava e costuma investigar fatos antes de propalar inverdades, sabe bem que o jornalista sempre se pautou pelo respeito a todas as crenças religiosas. Ricardo Eugênio Boechat exerceu, durante toda a sua carreira, um papel reconhecidamente democrático, com fortes críticas pontuais sim, mas a maioria delas de maneira coerente e justa. Pode ter exagerado vez ou outra, o que não invalida a sua brilhante trajetória jornalística, irrefutavelmente comprometida com o interesse público. Fará muita falta. Muita.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Itaúna sediará 8º Congresso Mineiro dos Serviços Municipais de Saneamento

O evento está previsto para acontecer no mês de outubro e contará com a participação de várias cidades do Estado de Minas.

Na terça-feira (05/02), em Assembleia da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento de Minas Gerais -Assemae Minas, da qual o Serviço Autônomo de Água Esgoto-SAAE de Itaúna é associado, o Município foi confirmado como sede para a realização do Congresso (foto).

 

O tema, por enquanto, não foi decidido, mas o evento provavelmente irá fomentar debates sobre a importância de se garantir melhorias na gestão municipal do setor de saneamento e sustentabilidade.

A programação inclui palestras, minicursos, apresentações de experiências exitosas e visita técnica, e contará com a participação de gestores públicos, técnicos, representantes do Governo Federal, pesquisadores, lideranças de organizações não governamentais e acadêmicos.

Já está prevista uma reunião com a Comissão de Eventos da Assemae, para a segunda quinzena de junho, que tratará de questões sobre a organização do 8º Congresso, previsto para os dias 9,10 e 11 de outubro.

Um dos objetivos da Autarquia é apresentar, por meio de visita técnica, a Estação de Tratamento de Esgoto-ETE, a qual tem a previsão de ser inaugurada em setembro deste ano, caso não haja nenhum imprevisto.

O que é a Assemae?

A Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – Assemae é uma organização não governamental sem fins lucrativos, criada em 1984. A Entidade busca o fortalecimento e o desenvolvimento da capacidade administrativa, técnica e financeira dos serviços municipais de saneamento responsáveis pelos sistemas de abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo dos resíduos sólidos e drenagem urbana.

A Associação possui reconhecimento e credibilidade nacional e internacional, reunindo quase dois mil associados no Brasil. Em defesa da universalidade do saneamento básico e melhoria da gestão pública, a Assemae se faz presente nas diversas esferas do Governo Federal, participando do Conselho das Cidades, Conselho Nacional de Saúde, Conselho Nacional de Recursos Hídricos, conselhos estaduais de saneamento e comitês de bacias hidrográficas, entre outros.

Ao longo de sua história, a Associação discutiu propostas municipalistas históricas, como a destinação de maior parte do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS para o saneamento, as campanhas sanitárias contra a dengue e cólera, a luta pela manutenção do Ministério da Ação Social, e ainda as inúmeras mobilizações pela criação de legislação específica para o setor, a exemplo da Lei do Saneamento (11.445/2007), Lei dos Resíduos Sólidos (12.305/2010), Lei dos Consórcios Públicos (11.107/2005) e Lei dos Recursos Hídricos (9.433/1997).  

Fonte: COMSAAE

Sobre os Gurus

Compartilho, a seguir, texto do eminente professor Roberto Romano. Recomendo muito a leitura (sobretudo a todos nós que, de alguma maneira, vivemos os ares acadêmicos):

Sobre os Gurus

Nossa época é o tempo dos gurus. Existem mestres para tudo: cozinha, economia, ciência política, filosofia, teologia, crime organizado, orgias, etc. É a era dos personal training em tudo e para todos. “Conselhos” são aceitos e procurados com avidez, consumidos também de modo célere, jogados no lixo quase instantaneamente. E segue a busca de novos gurus, novos assuntos, nova moda. Claro, a literatura vai na onda. Por mais que Umberto Eco advirta, o mundo da tecnologia imbeciliza com método.

Outro dia, procurando uma tese política de Leibniz (sim, o grande matemático e físico escreveu sobre teologia, direito, diplomacia, economia, etc...) parei numa página profética. A traduzo aqui de modo imperfeito, para dar ideia do que ele advertia e se cumpre hoje.

“A peculiaridade de um intelectual também possui o péssimo efeito de prover ocasião para seitas e para o desejo da falsa glória que atrasa o progresso. Um intelectual tem opiniões que ele imagina sutis e relevantes. Logo ele quer se tornar a cabeça de uma seita. Ele trabalha portanto para arruinar a reputação dos outros. Ele fará um livro de mágico erudito, ao qual seus discípulos se acostumam, pois sentem-se incapacitados de usar a própria razão sem tal livro. Para ele é fácil os cegar para conseguir a glória de ser o seu único líder. O público, no entanto, perderá tudo o que as boas mentes poderiam fazer, mas não fazem por estarem numa seita, se elas perdem a liberdade e a diligência que agora lhes falta, pois acreditam suficiente o aprendido com o mestre. Bom entendimento e comunicação destroem tal comportamento. Então alguém reconhece facilmente que não deveria limitar a si mesmo às doutrinas do seu mestre, e que um só homem conta pouco diante da união de muitos. Então alguém dará a cada um a justiça que merece, na proporção em que contribui para o bem comum”. Uso a tradução inglesa : “Memoir for Enlightened Persons of Good Intention (1690). Leibniz, Political Writings, Ed. Patrick Riley, Cambridge University Press, 1988, pp. 109-110.

Quantos na universidade de hoje (e de ontem) pertencem a seitas... Caíram as grandes ortodoxias (liberais, estalinistas, positivistas, freudianas, etc). Em seu lugar surgiram as pequenas : seguidores de Foucault que não leem outros escritores, de Agamben, de Heidegger, de....a lista é interminável. Vai dos mais elevados (Leibniz na sua crítica visava Descartes) aos mais baixos, dos mais progressistas aos que indicam ministros de educação em governos retrógrados, etc. Mas permanece a ortodoxia. Estive em bancas onde temas relevantes para a humanidade eram reduzidos à visão de um só teórico. Quando o candidato era confrontado por outros filósofos, na lembrança dos examinadores, respondia sempre que para o “seu” escritor, o problema estava resolvido ou era irrelevante. Teses inteiras na ótica de um só guru.

É bom estudar determinado autor, mas seus enunciados devem ser postos sinoticamente, quando o assunto é igual, diante de outros. Existem “especialistas” em Foucault, Agamben, etc. Que tais autores sejam conhecidos, lidos, comentados. Mas se “tudo” está neles, entramos no que Leibniz diz dos sectários : não conseguem pensar sem os livros do mestre.

Já contei a anedota verídica ocorrida comigo tempos atrás. Estava eu em férias na bela Ouro Preto, na época em que e mail só por computador. O hotel em que me hospedava tinha uma internet ruim e lenta. Na cidade uma Lan House oferecia serviços rápidos. Entrei certa feita na Lan House e o computador estava sendo usado por uma jovem. Ela imprimia páginas de um texto. Ao lado do computador notei traduções (incertas quanto à qualidade) de Nietzsche. Perguntei: “a senhora estuda Nietzsche?”. Enfarada a moça responde a meios dentes, “sim”. Pergunto: “sob qual ponto de vista o estuda? Me interesso muito por ele”. Resposta : “Nietzsche não é para qualquer um”. Calei-me e esperei que o computador fosse liberado. Ah, ela preparava uma comunicação para a Anpof, que se reunia na cidade.

Volto ao hotel e no lobby encontro uma roda de professores e estudantes. No meio, um grande conhecedor do pensamento de Nietzsche. Ele sai da roda e me abraça, apresentando-me ao grupo: “este é o professor Romano, grande conhecedor de Nietzsche”. A informação era mais generosa do que verdadeira, pois meus conhecimentos sobre o grande escritor são razoáveis, mas não importantes. Valeu a bondade habitual do colega. A senhorita do caso estava na roda. Só faltou para ela um ataque cardíaco... Pois bem: foi preciso a voz do mestre (inclusive pouco veraz pela sua generosidade para comigo) para que ela percebesse que, para além da sua seita, alguém poderia ter luzes para entender o seu estudo.

Leibniz tem razão: como sair do circuito fechado das seitas? “Bom entendimento e comunicação”. Basta deixar o idioleto dos “autores consagrados” e dos “interpretes consagrados”, aceitar que em outros setores as pessoas pensam e conhecem e a verdade não reside nos lábios dos gurus. Se Leibniz fosse ouvido, talvez certos gurus não tivessem poderes tão amplos em nossos dias, tristes dias.

Roberto Romano