segunda-feira, 31 de dezembro de 2018
Itaguara: 75 anos de emancipação política
Hoje comemoramos um aniversário muito especial. Itaguara, essa jovem e altiva senhora, completa, neste derradeiro dia de 2018, 75 anos de emancipação política. Data simbólica porque sabemos que uma cidade é a soma de toda a sua história - dos cataguás até nós.
Nestes versos escritos há cinco anos e que compartilho agora, homenageio nossa terra, identificando um traço comum em todos os itaguarenses: a itaguarescência, a soma do itaguarescer e do itaguarizar - da abstração e da corporeidade, do visível e do que sentimos - aquilo que faz muito do que somos.
A itaguarescência está contida na mineiridade - inescapáveis identidades nossas.
Parabéns, Itaguara!
Itaguarescência
(Alisson Diego)
O pertencimento solidário
Geógrafa identidade
Certidão de inserir-se mineiro
Gente que nasce e se fazendo se torna
O próprio lugar da gente
Pelas vertentes centrais do centro-oeste metropolitano de Minas
Há Itaguara
O lugar, o povo, o céu, as águas e os pores de sol
Singular peculiaridade no mundo
Itaguarescer
É labutar sem sono
Suar sem reclamos
E ainda agradecer
Itaguarescer Também é se dar aos pequenos prazeres
Que colorem o existir de sentido e flores
O céu estrelado, as muitas árvores multiformes
Os sons do mato, as andorinhas a rodear faceiras a torre da igreja
Itaguaresço-me
Ao escutar as noites de luares hemiciclos
E as chuvas com cheiro tímido de verde-natureza
É a fantástica magia da realidade simples
É Minas deveras Gerais gentes arraigadas
Itaguaresço-me
Quando contemplo os pores-de-sol
Multicoloridos de canto a canto da Conquista
Quando ouço os mugidos sinfônicos das criações
Os farfalhares, chilreares, berros, grasnados, cantares, uivos e assobios
Num canto nobre da alma Itaguarescida
Escuta-se os cantos entranháveis dos cataguas, sapucaias
Amyipagûana
O itaguarense Sertanejo-citadino-universal
Adjetiva-se de mineiridades inescusáveis
É o café
O leite
O pão de queijo
O queijo
A broa de fubá
O gado
A lida
A fé
A botina, o canivete, o chapéu e o pito de palha escondido
no fundo do bolso raso da calça gastada mas remendada caprichosamente
(porque o desperdício não pode)
A conversa, o banquinho, o convite, a visita:
_ Senta!
_ A demora é pouca.
_ Almoça!
_ Uai...
É o pai, o avô,
O bisavô e o tataravô
Tradição
Mamãe, vovó, bisavó
Sensíveis tradições e humildades herdadas
É recusar agradecendo e desejando
Aceitar recusando
E agradecer muito
Itaguarizar-se
Para seguir na estrada,
Tocar a lida
Itaguarizo-me
Na pataca
Na serrinha
Nas estradas poeirentas bonitas
Pelas ruas simples de magia e gentes
Nas conversas despretensiosas demoradas na venda do Zé Ananias
Entre fumos de rolo, velas de santo e livros de filosofia antiga
Itaguarizo-me
Quando amanheço após noite de turbulento sonho
Cruz-credo
O itaguarense
Transcende palavras
Fala por sorrisos aquiescentes e olhares exprobos
Mantém a fé na humanidade e a desconfiança em si próprio
E ora
Sem esperar milagres
Mas acreditando que os impossíveis se fazem quando se merece
Ou é tudo mistério do Deus
Supremos inexplicáveis
É preciso confiar no manto
Da santa que sofre e chora a dor da perda do filho
Que por acaso é Deus
Ser Itaguarense
É exceder-se algumas vezes
para equilibrar-se para o todo até o fim
Ser itaguarense é não ser melhor
Nem pior
É só ser
Ente
Ser itaguarense
É superar itaguarices
E Itaguarescer-se
Itaguarizar-se
É ter um pé no interior e outro na capital
E conservar a alma no interior
É viajar pensando em voltar
E sorrir sozinho despistado
quando a serra de Itaguara se descortina em pontinhos de luz:
Alá ó, Itaguara!
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