quarta-feira, 3 de março de 2021

Novos desafios e aprendizagens * *

Prefeitura de Itabira: Créditos Ascom Pref. Itabira
 

    Fui eleito vereador aos 19 anos de idade, mas comecei a minha militância política bem antes, aos 13, envolvendo-me com grêmio estudantil e liderança escolar, isso ainda no ensino fundamental. Lá se vão mais de 20 anos de envolvimentos comunitários e 17 anos desde a primeira eleição da qual participei.

    No mais, a minha trajetória é amplamente conhecida pela grande maioria dos leitores deste jornal e pelos estimados conterrâneos itaguarenses: fui prefeito aos 23, reeleito aos 27, diretor do SAAE de Itaúna aos 31 e secretário de governo e planejamento de Itaúna aos 32, cargo que ocupei até os 34. Apesar dos recém completos 36 anos e a idade ainda me conferir alguma juventude, olho para trás e vejo uma caminhada longuíssima de trabalho e múltiplas experiências. Algumas positivas, outras nem tanto. De todo modo, todas as vivências garantiram-me, até aqui, uma gama de aprendizagens.

    Decidi “dar um tempo” tanto da política, quanto da gestão pública para voltar ao Banco do Brasil em meados de 2019. Fiquei no Banco por mais de um ano, até que recebi um convite irrecusável: auxiliar na elaboração de um ousado planejamento estratégico em Itabira, sobretudo com a exaustão do mineiro de ferro nos próximos anos (convite técnico, feito a partir de meu currículo e não por qualquer indicação partidária).

    A missão da gestão municipal itabirana, neste momento, consiste em estruturar um plano de diversificação e autossuficiência econômica para fazer frente ao rombo estrutural que poderá abalar a cidade com a saída da Vale S.A., a maior multinacional brasileira e uma das principais fontes de arrecadação do município. Itabira é uma das 10 maiores economias do estado, uma das 25 maiores cidades de Minas Gerais (populacionalmente), além de ser a terra do mineiro que mais admiro: Carlos Drummond de Andrade, o poeta maior. Fazer parte do primeiro escalão do governo itabirano é, pois, motivo de imensa honra e inestimável júbilo. De Itaguara para Itabira, são muitas histórias acumuladas nestas quase duas décadas. De Itaguara, guardo a mais terna gratidão e, de Itabira, nutro a mais sincera esperança: é preciso encontrar soluções e implementar mudanças para melhorar a governança pública e, teleologicamente, construir uma sociedade mais justa, fraterna, ecológica e desenvolvida.

    De vez em quando, perguntam-me se eu ainda não me decepcionei com a política ou com a gestão pública (gestão pública e política podem parecer a mesma coisa, mas não são, definitivamente) e eu respondo sonoramente que sim! Meu Deus do céu, como me decepcionei nesta longa caminhada! Quantas vivências com pessoas nefastas, egoístas e “estranhas”. A cada grande decepção, perseguia-me uma gigantesca e angustiante indagação: desistir de vez e cuidar apenas da minha vida ou insistir nos trabalhos coletivos? Houve momentos nos quais decidi, de fato, cuidar de minha existência, quase que de modo ensimesmado. Outras vezes, porém, realinhei as expectativas e decidi voltar a trabalhar pelo coletivo, isso porque a vida, para mim, jamais se reduzirá à mera satisfação de meus desejos e interesses individuais.

    A existência plena e autêntica, diz-nos Aristóteles e tantos outros pensadores notórios, impõe-nos uma atuação na cena pública. Afinal de contas, não vivemos sozinhos e é apenas em comunidade que nos aperfeiçoamos enquanto seres humanos.

* Alisson Diego Batista Moraes, 36, advogado, MBA em Gestão de Empresas pela FGV, bacharel em Filosofia pela UFMG e mestrando em Ciências Sociais pela PUC Minas. Foi prefeito de Itaguara entre 2009 e 2016, atualmente é membro da diretoria executiva do Partido Verde de Minas Gerais e assessor especial de projetos da Prefeitura de Itabira-MG. 


** Artigo escrito para o Jornal Cidades (Itaguara/MG), edição de março de 2021.