quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Personagens da História Itaguarense: João Luis de Oliveira Campos

Tenente Coronel João Luis
de Oliveira Campos

João Luis de Oliveira Campos (*1834  + 1914) hoje é o nome de uma das cinco equipes de ESF (Estratégia de Saúde da Família) de Itaguara-MG. Ele faleceu há 114 anos, mas a sua história não pode ser esquecida e, por isso, compartilhamo-na aqui neste espaço (autoria da professora Maria Geralda Costa):

                                                                          *  *  *

O Tenente Coronel João Luís de Oliveira Campos foi dono da Fazenda da Mata, cuja sede é hoje residência de D. Eneida de Oliveira Malta. A casa sofreu reformas, mas guarda a mesma estrutura. A parte de cima era a residência da família e a de baixo a senzala. Ele possuía muitos escravos. Embora fosse tido como “bom senhor de escravos”, meu avô, seu filho, dizia guardar tristes lembranças do tempo da escravatura. Lamentava ter vivido nessa época.

Ele casou-se em primeiras núpcias com Mariana Francisca de Paula, filha dos antigos donos da Fazenda do Pará. Portugueses, Coronel João Luis e D. Mariana tiveram os seguintes filhos: ­­

- Cipriana Vilela de Oliveira Campos, nascida em 1871, esposa de Teotônio Rodrigues Pereira;

- Bárbara Vilela de Oliveira, esposa do primo, Coronel Joaquim Vilela Frazão, homem de muitos bens; não tiveram filhos. Seu testamento recomendava bens para construção de uma escola. É a nossa escola Coronel Frazão.

- Antônio Luis de Oliveira Vilela, esposo de Gabriela Luisa de Oliveira. Ele foi delegado, é o personagem "Major Anacleto", na obra de Guimarães Rosa. É tataravô do ex-prefeito Alisson Diego Batista de Moraes.

- Luis Vilela de Oliveira Campos (meu avô) cuja esposa Arminda Luisa de Oliveira era irmã de Gabriela.

- José Luis de Oliveira Vilela que se casou com Francisca Dias de Oliveira Leite, natural de Congonhas (avós de D. Hélia de Oliveira Vilela).

- Maria das Dores de Oliveira Campos (D. Dorica – patrona da casa de D. Dorica) esposa do farmacêutico Arthur Contagem Vilaça, natural de Crucilândia.

- Maria do Carmo Vilela Oliveira (bisavó da curadora do Musa - Maria Rita) , casada com Antônio Rodrigues de Oliveira.

O título de Tenente Coronel lhe foi conferido pelo Império. A patente e a espada doadas na época que recebeu o título estão com descendentes seus. A espada, com bisneto de Coronel Antônio Luis e a patente, com um bisneto de D. Cipriana.

Naquela época por aqui não havia médico e nem farmacêutico. Coronel João Luis cuidava da saúde de nosso povo (havia outros que faziam o mesmo). Dizem que seus remédios eram bem acertados. Quando alguém insistia querendo um diagnóstico, sua resposta era categórica. “Pode ser que seja e pode ser que não seja”! Conhecemos em Oliveira, D. Amanda que dizia ter sido curada por ele. Ela sofria algo nos olhos que muito a incomodava. Ele deu uma picada no seu dedo e com seu próprio sangue a curou! D. Amanda era uma velha ex-escrava.

Ele procurava estudar. Um de seus livros, Guia Pratico da Saúde, editado pela “Casa de Publicação Brasileira” de São Paulo, ainda existe e pertence hoje ao veterinário Fábio de Oliveira Ribeiro (bisneto). Tem-se a impressão que seu amor à medicina passou aos seus descendentes. São 24 os médicos de sua descendência .

Dezessete deles descendem do casal Cipriana e Teotônio. Também João Rodrigues que desempenhou cargos importantes na Arquidiocese de Belo Horizonte era filho deles. Os netos do Coronel João Luis e D. Mariana os chamavam de pai João (parecendo mais "Pajão") e Mãe da Mata .

O Coronel João Luis ficou viúvo em 02/02/1906. D. Mariana morreu aos 67 anos. D. Dorica ainda era solteira. Foi entregue pela mãe à irmã mais velha Cipriana. Era desejo de sua mãe vê-la casada com farmacêutico Arthur Contagem Vilaça, sete anos mais novo. Desejo realizado! D. Dorica era moça prendada. No colégio da tia Lilita em Oliveira, aprendera piano, pintura, etc.

Em julho, cinco meses após o falecimento da sua esposa, Coronel João Luis contraía novas núpcias com Belmira Ana de Oliveira, menina moça de 13 anos. Segundo recordações de familiares, ela possuía muitas jóias. Parece que o velho de 72 anos se encantara com a jovenzinha esposa!

Coronel João Luís adquiriu, no arraial, uma casa pertinho da matriz, onde hoje é pizzaria da praça. Ali viveu os seus últimos anos de vida. A casa passou a ser da viúva, D. Belmira. Faleceu aos 80 anos e foi sepultado no dia 10/12/1914 em Rio do Peixe, hoje Piracema. Não havia cemitério aqui. Os mais próximos eram os de Pará dos Vilelas e Piracema.

Dados colhidos no Livro: Genealogia de Carmo de Cajuru, de Oswaldo Diomar, lembranças de parentes e amigos. Em todos os lugares a palavra Luis apareceu com s e sem acento. Págs. 660 - 661

Maria Geralda Costa
Itaguara, 14 de outubro de 2013.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Sociólogo João Batista sobre o 2º turno

Compartilho a seguir as palavras do professor João Batista dos Mares Guias (em publicação em suas redes sociais), candidato ao Governo de Minas pela Rede Sustentabilidade, para auxiliar no aprofundamento do debate que nos espera neste segundo turno eleitoral:

*  *  *

Brasil: 

minha posição pessoal sobre o segundo turno eleitoral entre Fernando Haddad (PT) versus Bolsonaro (PSL)
Leio nos jornais de hoje que Ciro Gomes, com o apoio do PDT, deverá declarar "apoio crítico a Haddad", no sentido de um "apoio protocolar, estabelecido que o partido não ocupará cargos em um eventual governo do PT, não participará da coordenação da campanha e fará oposição independentemente de quem seja eleito". 

Como se lê, a posição é clara, é "contra Bolsonaro", é de apoio a Haddad, apesar do PT. É apoio a Haddad sem abdicação da crítica e do distanciamento face ao PT. Portanto, fixa com nitidez posição de independência e de oposição crítica e construtiva em relação ao PT e a um eventual governo do PT, com Haddad presidente.

Concorde-se ou não com ele, Ciro Gomes, penso, agiganta-se como líder político nacional. Em momento tão crucial para o futuro do país ele se expõe e oferece uma orientação geral ao país e aos seus liderados.

Já na seara do PSDB Geraldo Alckmin antecipa a sua posição: nem um, nem outro, isto é, em hora tão crucial, neutralidade! Será essa a posição do PSDB? 

Em busca do desejado apoio do PSDB, em entrevista ao Jornal Nacional, da Globo, ontem, 08/10, Fernando Haddad facilitou ao PSDB uma tomada de posição semelhante à anunciada por Ciro Gomes. Defendeu programaticamente o ideário político e ideológico da socialdemocracia (do qual o PSDB há muito se afastou ou dele abdicou). Demonstrou-se disposto a uma aproximação virtuosa com o centro democrático. Disso ofereceu testemunho ao abandonar a tese lulista e do PT da defesa de uma Constituinte, severamente criticada por muitos e por mim devido à sua raiz ideológica autoritária. Além disso, estabeleceu o moderado senador eleito Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, na coordenação geral da sua campanha, além de promover substituição oportuna no comando da equipe responsável pelo programa de governo. Introduziu na agenda econômica do PT a relevância do enfrentamento e superação da crise fiscal com medidas de reforma fiscal.
Os sinais favoráveis a uma aliança eleitoral rumo ao centro não poderiam ser mais explícitos. Haddad oferece, agora, as primeiras demonstrações de estar no comando da própria campanha.

Bolsonaro versus Haddad e a tese da neutralidade ou "nem um, nem outro"

Há, estabelecido, um resiliente sentimento de anti-petismo visceral. Isso, por gravidade, canaliza apoios eleitorais a Bolsonaro resultantes apenas da negação do PT. Contudo, há também estabelecido um corpo difuso de valores, inclinações e disposições psíquicas e uma mentalidade em formação patentemente de extrema-direita e com forte viés fascista: o ideário comportamental, atitudinal e ideológico autoral do candidato Jair Bolsonaro.
Segue-se um resumo das características desse ideário:

i) supremacia masculina;
ii) intolerância e linguagem sentenciosa e peremptória;
iii) desprezo odioso à realidade humana demarcada pela diversidade em suas múltiplas expressões sociais: gênero, raça, orientações sexuais;
iv) culto à vulgaridade e anti-intelectualismo;
v) pensamento binário: tudo tem dois lados antagônicos, e nada mais, e a resolução passa necessariamente por uma relação de antagonismo cuja resolução se dá pela destruição do outro ( o "outro" sempre percebido e exaltado como "inimigo");
vi) valorização sistemática (coerente e consequente) das baixas paixões e dos instintos mais primários;
vii) desprezo ao diálogo, à busca do esclarecimento, à argumentação, à comunicação desimpedida e à formação de consensos verdadeiros (quer fixar consensos manipulados, fundados em premissas que nunca vão além de preconceitos e contra-valores civilizatórios);
viii) incitação verbal, gestual, comportamental e atitudinal à violência;
ix) culto à chefia salvacionista, vingativa e predestinada a "salvar" o país e o povo contra as forças do caos. Ordem versus pluralismo; comando versus liderança; obediência versus confiança; poder versus governo constitucional; intolerância face ao conflito democrático;
x) e, no extremo - aliás, manifesto - defesa da tortura ("o erro da ditadura foi não ter matado pelo menos uns 30 mil opositores" e o elogio ao torturador coronel Brilhante Ulstra), defesa da ditadura militar, culto à violência.

Como se quer demonstrar, Bolsonaro é a encarnação do autoritarismo, com forte inclinação ao totalitarismo fascista. Patentemente, uma ameaça em ato à democracia, vez que no exercício do "poder" seus contra-valores e - se desimpedidas de contenção - suas práticas tenderiam a fragilizar e a minar por dentro o estado de direito democrático, os valores democráticos e o republicanismo. Ainda que venha a alcançar o governo pelo voto em eleição limpa.

E Haddad e o PT?

O problema propriamente problemático é que Bolsonaro é o filho pródigo e de certo modo desejado-indesejado do próprio PT. Não irrompeu de um nada primordial. Antes, "floresceu" a partir de uma sucessão de graves erros cometidos pelo PT.

O PT escolheu o tortuoso caminho da destruição do centro democrático para conviver com o pântano de um "centrão" amorfo, corruptível, inorgânico e cooptável. 

Primeiro, foi o "Nós contra Eles", patente no fato do PT dar entrada no Congresso Nacional a 49 pedidos de impeachment contra FHC. Isso, mais a oposição sistemática ao Plano Real, à ideia da responsabilidade fiscal, ao ajuste cambial e fiscal - tardios, praticados somente durante o segundo governo -, ensejou a organização, daí em diante desencadeada, da prática da política no país como antagonismo. Nos anos FHC, o PT ganhou a "batalha" ideológica contra um PSDB acovardado, incapaz de defender o seu próprio legado e ideias. Foi dada hora, vez e voz a uma espécie de "comunidade de ódios" recíprocos entre o PT e o PSDB, em um cenário de disputa bipolarizada e cada vez mais visceral.

Adiante, nos governos Lula ocorreram, primeiro, o "mensalão", a que se seguiu o silêncio obsequioso do PT, isto é, nenhuma autocrítica. Tão ruim quanto, fez-se a exaltação heroica de José Dirceu como "preso político", sendo ele réu segundo a lei penal por crime de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Surgia, assim, pela mão e intenção do PT, a "corrupção do bem"! Pois, e afinal, para derrotar a burguesia, somente recorrendo também às artes do demônio, racionalizavam, justificando-se! Por essa via tortuosa, o PT sacramentava o uso continuado e sistemático da corrupção.

Tanto foi assim que somente em 2014 o país tomaria conhecimento, através da Operação Lava Jato, de como, a partir de 2006, a corrupção organizou o poder e os governos do PT, além de financiar fartamente as campanhas eleitorais do partido.

A revolta popular pacífica de 2013 levou a sociedade às ruas. Com ela, pela primeira vez a extrema-direita, ainda meramente comportamental e difusa, contudo organizando-se, também foi às ruas e tomou gosto pelas ruas. Aprendeu o caminho, construiu espaço e encontrou razões para ousar expandir. No ano anterior ocorrera o julgamento do caso "mensalão". No ano seguinte, 2014, começava a maior crise de recessão da história da economia brasileira, produzida pela ideologia a partir da onipotência da vontade da presidente Dilma Rousseff. O ano de 2014, crucial, foi, também, o ano do surgimento da Operação Lava jato e das primeiras e graves denúncias da corrupção do PT. Foi, também, um ano eleitoral.

Na sequência, estabelecida a crise econômica, aproveitada pela extrema-direita como caldo de cultura para a política do tudo ou nada, por sua vez o PSDB inaugurava a sua própria versão do "Nós contra Eles", em quatro atos. 

Primeiro ato: Aécio Neves, derrotado, questiona os resultados da eleição presidencial. Segundo ato, em 2016, segue o PMDB e decide o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Terceiro ato: a corrupção do PSDB começa a ficar patente, estampada pela Lava Jato. Quarto ato: PSDB, PMDB e PT fazem acordos de mútua salvação no Congresso Nacional e tentam inviabilizar a progressão da Lava Jato. Felizmente sem êxito.

É nesse ambiente de progressão continuada de fatos sombrios que emerge e depois irrompe um Bolsonaro como líder autoritário e a extrema-direita, em organização.

Haddad é PT. Tem personalidade própria, patente no exercício do governo municipal em São Paulo, quando frequentemente ele contrariou interesses fisiológicos de grupos do PT. A propósito, fez um bom governo em São Paulo. Não está envolvido em corrupção e nada pesa contra ele. Contudo, manteve-se em estado de silêncio obsequioso face à progressão continuada de erros do PT.
Seja como for, ele é melhor do que o PT tem se demonstrado. Mas não basta. Com efeito, até então apresentou-se como uma nova encarnação do lulismo. Oferece, agora, os primeiros passos de emancipação rumo à afirmação da sua personalidade própria de líder político, que é.

E então: que posição tomar nesse segundo turno?

Concretamente:
i) meu voto será em Fernando Haddad. Votarei pela liberdade, pela democracia (infelizmente não pode ser pelo republicanismo, pois o PT nada tem de republicano), pela reconstrução do humano. Contudo, sem entusiasmo, sem paixão, sem afinidades eletivas fortes, cético face a um eventual futuro governo do PT;
ii) de modo semelhante à posição de Ciro Gomes, penso que a Rede não deverá participar de um eventual governo Haddad. Antes, deverá se manter na oposição ao governo do PT como oposição construtiva, assertiva, oferecendo crítica e soluções. Mas sem participar do governo. É assim que pessoalmente procederei, longe do governo e do poder, em oposição construtiva;
iii) penso que a Rede deverá persistentemente cobrar do PT e do candidato Haddad uma autocrítica dos erros do PT e uma atitude firme contra a corrupção e uma manifestação inequívoca de apoio à Operação Lava Jato.

É o que penso e ofereço à Rede para reflexão. Seja como for, como nessa questão está envolvida centralmente uma questão irrevogável de valores humanos fundamentais, é assim que votarei, na esperança de que seja essa a decisão nacional da Rede.



Pelo Brasil e seu povo, desejo a vitória de Haddad. Se vitorioso, desejo que Haddad rompa definitivamente com a tosca e inaceitável política de hegemonia e de poder do PT, que Haddad supere o vicioso modo petista de governar para se perpetuar no poder.
Desejo que ele ponha fim à face sombria do lulismo.