terça-feira, 14 de outubro de 2014

A Maior Crise Hídrica da História: Algumas Palavras


Miríades de pernilongos incomodam populações de dezenas de cidades (algumas pessoas alérgicas vão parar até no hospital), falta de água generalizada, prefeituras decretando calamidade pública, nascentes secando, calor intenso na primavera, baixíssimos índices de umidade e população com problemas respiratórios. Isso poderia ser o roteiro de uma peça de teatro representando o fim dos tempos. Mas é real. É o que temos vivido em nossa região.
A imprensa propaga a crise hídrica de São Paulo, mostra todos os dias os níveis alarmantes da Cantareira. Mas o fato é que a crise é do Sudeste e na verdade uma grave crise brasileira, de proporções catastróficas e que tem nos afetado a todos.

Oficialmente, trata-se da pior seca dos últimos 100 anos*. Pelo menos 20% dos municípios enfrentam os graves efeitos dessa estiagem, incluindo a maior cidade do país, São Paulo (importante lembrar da recente disputa pela água da bacia do Paraíba do Sul). O nível do Sistema Cantareira – principal manancial de São Paulo – chegou a 4,7% - triste recorde. Em Minas, o volume da barragem de Três Marias já está abaixo de 5% - o pior índice da história.**

Algumas cidades próximas a Itaguara decretaram calamidade pública pela situação dramática de falta d'água***. Pará de Minas e Itapecerica são apenas dois exemplos próximos. Mas há outros e ainda mais graves.

Lamentavelmente, a crise hídrica deve continuar e até se agravar nos próximos dias, pois não há previsão de chuva significativa, em toda a Região Sudeste, de acordo com o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec).

A situação é paradoxal se olharmos para trás: há pouco mais de dois anos Itaguara sofria com a enchente que chegou até a derrubar pontes e danificar algumas estruturas. Motivou-nos uma importante obra de contenção na ponte da Rua Mário Lima (finalizada recentemente). Hoje, o Ribeirão Conquista está com água praticamente parada. Servidores públicos estão abrindo manualmente o leito do ribeirão, podando o mato para combater os pernilongos e tentando dar vazão ao filete de água que está quase "ancorado".

Tenho conversado com amigos prefeitos da região e todos estão em polvorosa. Há cidades que estão em racionamento rígido há vários meses. Em Pará de Minas ouvi casos de residências há mais de dez dias sem água. Em Oliveira não é diferente e um amigo que mora lá disse que tem faltado água todos os dias. Em São João del Rei outro dia não tinha água nem para dar descarga. Parei num posto de gasolina em Carmópolis e o frentista me disse que já faz mais de mês que não se joga água no para brisa dos clientes. Não resta dúvida. A crise é grave. Muito grave.

Meu avô tem quase 80 anos e disse que nunca viu algo igual em toda a sua vida. "Teve uma crise brava de falta d'água em 1956, verão passou sem chuva e o ano foi muito difícil, mas a seca deste ano está muito pior, nunca vi igual", me contou. Está preocupadíssimo, ainda mais depois que ouviu de um padre na TV que o mundo está quase no fim. Estou tentando convencê-lo de que o planeta não acabará, apesar da dramática situação, mas ele só acreditará no dia que chover.

Não sou adepto do sensacionalismo, mas o fato é que a mudança climática deixou de ser notícia e hoje traz os seus efeitos práticos para a vida de todos nós. Precisamos mudar radicalmente nossos hábitos de consumo, repensar nossos conceitos, mudar nossa matriz energética, trabalhar fortemente a conscientização, melhorar substancialmente a gestão dos recursos hídricos, trabalhar a questão da reutilização das águas de reuso e da água de chuva, combater sistematicamente o desperdício, proteger nossas nascentes, dentre outras ações. 

A preocupação com a água desde os pequenos gestos até as grandes transformações precisa ser um compromisso inadiável de cada cidadão e de cada cidadã. Se cada um fizer a sua parte, juntos conseguiremos vencer estes problemas e garantir água e vida para as próximas gerações.

Se não fizermos a nossa parte, o prognóstico já é sabido e o roteiro do apocalipse se tornará real.

Alisson Diego

Referências:

* Reportagem Jornal Nacional: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/08/rios-que-cortam-mg-enfrentam-seca-mais-drastica-dos-ultimos-100-anos.html

** Matéria E.M: http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2014/10/12/interna_gerais,578898/usina-de-tres-marias-deve-parar-de-gerar-energia.shtml

*** http://www.alterosa.com.br/app/divinopolis/videos/2013/10/01/interna-videos-dv,1695/para-de-minas-decreta-calamidade-publica-por-falta-d-agua.shtml#.VDyQNildVc8

**** http://g1.globo.com/mg/centro-oeste/noticia/2014/10/itapecerica-decreta-emergencia-por-falta-de-agua-e-desperdicio-gera-multa.html

**** Opinião Estadão: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-crise-hidrica-e-o-dia-do-meio-ambiente,1505878

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