segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Um ato impensado e a vida perde o sentido

Feriados prolongados são oportunidades ímpares de fazer duas das coisas de que mais gosto: cinema e literatura. Li bastante e assisti a bons filmes nestes insólitos dias carnavalescos. Chamou-me a atenção, especialmente, uma película que reassisti hoje (acho altamente produtivo reassistir filmes - o segundo olhar é sempre mais analítico).

"Simonal - Ninguém sabe o duro que dei" é um documentário simples, leve, reflexivo e deveria ser visto por todos que gostam de música. Os depoimentos marcantes (Chico Anysio, Jaguar, Ziraldo, Nelson Motta, Pelé, Miele e outros) dão a verdadeira dimensão da vida do primeiro show-men brasileiro. Um homem com um talento nato, que sabia conduzir seus shows com maestria, fazendo o público se sentir no palco, ao lado dele. O documentário mostra também a face mais humana de Simonal, o deslumbramento pela fama, os excessos e os impulsos. Inevitável não pensar: tão humanos e tão falhos podem ser os atos impensados, impulsivos. Um deles fez Simonal cair no ostracismo - a partir daí, a sua vida jamais seria a mesma.

Afirmou ter tido relações com o DOPS por ocasião de um muito mau explicado "sequestro" de seu contador. Foi posteriormente julgado e condenado pelo sequestro, mas a marca que ficou foi a de "servidor do Governo Militar". Um ato impensado, um impulso, uma ideia ruim fizeram Simonal tomar uma atitude que mudaria para sempre a sua vida. Depois disso, o show-men foi "esquecido", ou melhor,  foi condenado a um esquecimento aterrorizante.

Passei a pensar em quantos atos impulsivos cometemos na vida. A conclusão é óbvia: isso é comum e acontece a todo momento. Cometemos inúmeros atos ingenuamente impensados. Uma resposta grosseira, um SMS mal entendido, um e-mail rude, um telefonema exaltado - tudo isso pode trazer consequências várias e mudar definitivamente os rumos de nossas vidas. Arrepender-se depois pode não resolver muito, sobretudo se a imprensa e a opinião pública já tiverem batido o martelo da condenação moral.

Ao final do filme, temos a certeza de que a vida de Simonal foi dividida em duas, talvez ele tenha também morrido duas vezes. O documentário apresenta para as novas gerações este grande artista brasileiro, desmistificando o passado e fazendo justiça com a história de nossa música e de nossa cultura.

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