segunda-feira, 7 de agosto de 2017
Notas de um corredor: Corrida do Galo 2017
Era pra ser uma corrida muito tranquila, afinal de contas 10 km é a minha especialidade, o clima estava satisfatório e havia treinado exatamente essa distância durante a semana e feito um bom tempo. Mas essa frase já denuncia que não foi bem assim, né? E não foi mesmo!
Os quatro primeiros quilômetros os completei com média 4.30 - tempo que prenunciava uma prova excelente, bem abaixo dos 50 minutos. Mas, justamente, um pouco antes da metade da prova, uma câimbra inesperada, inoportuna e indócil me surpreendeu. Nunca havia sofrido uma câimbra numa prova em mais de uma década de corrida. E não foi uma câimbra qualquer. Foi uma câimbra daquelas!
Subitamente tive de parar. Reação imediata e inevitável. Mal conseguia colocar o pé no chão. A dor cortante perpassava toda a coxa direita. Justamente a bendita perna direita, a minha perna mais forte.
O pensamento rasante projetava mil cenários e, pela primeira vez na vida de corredor, considerei desistir. Mas nunca deixei de completar uma prova em maisde 15 anos de corridas! Seria hoje? Uma prova aparentemente simples de 10k? Não era possível!Isso tudo se deu em menos de um minuto - uma eternidade para uma corrida de 10k. Decidi retomar a prova. A dor não passava e passei suportá-la com lágrimas. Tive de me valer totalmente da perna esquerda e utilizar a direita apenas como apoio.
Acostumei-me com o passar dos segundos mais eternos e angustiantes possíveis. Não foi sem esmorecimento e dor que me habituei a correr numa média 6.4 e ver muita gente me ultrapassando. Gente que aparentemente sequer tinha hábito de corrida. Fiquei a imaginar a sensação de plena impotência dos pilotos de automobilismo quando os carros estragam no seu melhor momento. A analogia era perfeita: o carro era meu corpo, o piloto era minha mente. E a sensação de impotência era a mesma. E não havia muito o que fazer: era superar a dor e tocar em frente, no ritmo que desse, até o carro cruzar a linha de chegada.
Foi o que fiz. Quando a dor apertava, as lágrimas, involuntariamente, desciam no rosto. Evitava até olhar para as ambulâncias e equipe de apoio porque se me vissem naquele estado me convenceriam a parar. Mas não parei. Fui até o final, arrastando dolorosamente, mal dobrando a perna direita. Quando vi a linha de chegada nem acreditei. A dor aumentou implicantemente no finzinho, mas cheguei com pouco menos de uma hora.
O que era pra ser mais uma corrida se transformou na mais dolorosa prova que já corri. Foi superação e dor a cada passo, a cada segundo – e, mais uma vez, correr foi uma extraordinária lição de vida. Fui literalmente salvo pela perna esquerda, pelas lágrimas e pela teimosia.
Durante o sofrimento da corrida, tive uma certeza e uma motivação: era preciso escrever uma crônica. Ei-la!
PS: Essa nem foi a única dor do fim de semana. A perda do querido tio Darci foi dor maior. Dor de alma sempre suplanta a física. Mas o que é a vida, se não a superação de dores?
PS2: Sistemático que sou, depois avaliarei fisiologicamente as razões dessa maldita câimbra, se faltou potássio, se não me hidratei direito, se exagerei no pique, se a alimentação não foi adequada ou se foi um simples capricho da máquina humana.
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