segunda-feira, 21 de julho de 2014

Meus encontros com Ernest Hemingway

Em Havana e Paris com Hemingway

Sempre fui fã do Ernest Hemingway. Fã de verdade. Acho um escritor diferente e peculiar. Gosto de seus livros e textos e gosto ainda mais de sua figura. A sua imponente originalidade impacta os formalistas. Seus críticos envergonham-se diante de sua coragem literária e de seu senso criativo de repórter-poeta-escritor-genial. 

Para além das agruras, fantasias e dores em frases retratadas, #Hemingway foi homem. Estupidamente, originalmente, melancolicamente, sisudamente, poeticamente, categoricamente Homem.

Hoje é aniversário dele. 115 anos de nascimento! Que pena que ele não está mais aqui. Não está "em tese", porque para mim está e ninguém me prova o contrário.


Quando estive em Cuba, em 2012, tive a honra inesquecível de provar o drinque que ele mais gostava, o tal do #daiquiri. Pra ser sincero, gostei pouco do drinque, mas bebi com Hemingway e aquilo foi plenitude (foto). Sim, bebi com o cara! Conversei com ele e escutei com atenção discipular os seus conselhos mudos. "Viver, independente da felicidade, viver, independente de razões, viver", disse-me naquela tarde quente de inverno em #Havana. 


Mr Ernest e eu, no bar La Floridita em Havana, 2012.
Escutei ainda alguns conselhos literários ("para escrever é preciso coragem", me advertiu) e falamos de muitas coisas naquela tarde. Muitas das quais irreveláveis. Sim, alguns dirão que estou louco ao escrever isso. Não estou! É preciso sensibilidade para escutar além das vozes. A fonética e as silabações são imprecisas e vazias. A razão é imprecisa e incompleta. A vida é imprecisa. Há vozes para além das palavras escritas ou faladas. Sim, há. Há o vento, há o mar, há o homem e suas histórias, houve Hemingway naquela tarde. Houve sim, ouvi-o.

Dois anos e alguns meses depois daquele encontro em #LaHabana, reencontrei-o em #Paris, cidade que amava e que aprendi a admirar amorosamente também por ele. Paris é uma festa sim Hemingway! E como foi bom reencontrá-lo naquele boreal fim de inverno inusual para os meus costumes tropicais.

Este segundo e último encontro foi ainda mais inesquecível. Na última noite de minha estadia em Paris, meu aquecedor estragou. Fazia muito frio e não quis ligar na recepção do hotel para reclamar ou buscar alguma solução. Ao invés disso, vesti meu velho casaco amarrotado, saí do hotel e caminhei pelas margens do Sena. Fazia ainda mais frio ali. Ventava estranho nas margens do la Seine.









Hemingway apareceu novamente. Nem assustei. Cavalheirescamente, trocamos cumprimentos cordiais e caminhamos sem palavras. Estava um tanto quanto formal para seus padrões. Mas até acendeu o seu charuto lentamente, levando as mãos aos cabelos meio encanecidos e me disse em tom profético e tranquilo: "Escreva sobre isso, jovem. Ainda que ninguém acredite, escreva. Seja fábula, seja bravo, seja insano e escreva". Parecia tudo muito estranho, mas incrivelmente real. "Write about it, young man. Write about everything".

Está aqui my dear friend Mr. Ernest. Escrito. 

A propósito, parabéns pelos seus 115 anos!

Alisson Diego Batista Moraes.


* * *

PS: Algumas de suas frases demonstram seu gênio a sua forte personalidade de escritor de punho cerrado e coração aberto (algumas frases em diferentes textos e contextos):

-> "Escreve, se puderes, coisas que sejam tão improváveis como um sonho, tão absurdas como a lua-de-mel de um gafanhoto e tão verdadeiras como o simples coração de uma criança."

-> "Aos que trazem muita coragem a este mundo, o mundo quebra a cada um deles e alguns ficam mais fortes nos lugares quebrados. Mas aos que não se deixam quebrar, o mundo os mata. Mata os muito bons, os muito meigos, os muito bravos – indiferentemente.
Se não pertenceis a nenhuma dessas categorias morrereis da mesma maneira, mas então não haverá pressa alguma em matá-lo".

-> "Algumas pessoas quando ouvem um eco, pensam que deram origem ao som."

-> "São precisos dois anos para aprender a falar e sessenta para aprender a calar."

-> "É sempre assim. Morre-se. Não se compreende nada. Nunca se tem tempo de aprender. Envolvem-nos no jogo. Ensinam-nos as regras e à primeira falta matam-nos."

-> "Um idealista é um homem que, partindo de que uma rosa cheira melhor do que uma couve, deduz que uma sopa de rosas teria também melhor sabor."

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