Em Havana e Paris com Hemingway
Para além das agruras, fantasias e dores em frases retratadas, #Hemingway foi homem. Estupidamente, originalmente, melancolicamente, sisudamente, poeticamente, categoricamente Homem.
Hoje é aniversário dele. 115 anos de nascimento! Que pena que ele não está mais aqui. Não está "em tese", porque para mim está e ninguém me prova o contrário.
Quando estive em Cuba, em 2012, tive a honra inesquecível de provar o drinque que ele mais gostava, o tal do #daiquiri. Pra ser sincero, gostei pouco do drinque, mas bebi com Hemingway e aquilo foi plenitude (foto). Sim, bebi com o cara! Conversei com ele e escutei com atenção discipular os seus conselhos mudos. "Viver, independente da felicidade, viver, independente de razões, viver", disse-me naquela tarde quente de inverno em #Havana.
Mr Ernest e eu, no bar La Floridita em Havana, 2012. |
Dois anos e alguns meses depois daquele encontro em #LaHabana, reencontrei-o em #Paris, cidade que amava e que aprendi a admirar amorosamente também por ele. Paris é uma festa sim Hemingway! E como foi bom reencontrá-lo naquele boreal fim de inverno inusual para os meus costumes tropicais.
Este segundo e último encontro foi ainda mais inesquecível. Na última noite de minha estadia em Paris, meu aquecedor estragou. Fazia muito frio e não quis ligar na recepção do hotel para reclamar ou buscar alguma solução. Ao invés disso, vesti meu velho casaco amarrotado, saí do hotel e caminhei pelas margens do Sena. Fazia ainda mais frio ali. Ventava estranho nas margens do la Seine.
Hemingway apareceu novamente. Nem assustei. Cavalheirescamente, trocamos cumprimentos cordiais e caminhamos sem palavras. Estava um tanto quanto formal para seus padrões. Mas até acendeu o seu charuto lentamente, levando as mãos aos cabelos meio encanecidos e me disse em tom profético e tranquilo: "Escreva sobre isso, jovem. Ainda que ninguém acredite, escreva. Seja fábula, seja bravo, seja insano e escreva". Parecia tudo muito estranho, mas incrivelmente real. "Write about it, young man. Write about everything".
Está aqui my dear friend Mr. Ernest. Escrito.
A propósito, parabéns pelos seus 115 anos!
Alisson Diego Batista Moraes.
* * *
PS: Algumas de suas frases demonstram seu gênio a sua forte personalidade de escritor de punho cerrado e coração aberto (algumas frases em diferentes textos e contextos):
-> "Escreve, se puderes, coisas que sejam tão improváveis como um sonho, tão absurdas como a lua-de-mel de um gafanhoto e tão verdadeiras como o simples coração de uma criança."
-> "Aos que trazem muita coragem a este mundo, o mundo quebra a cada um deles e alguns ficam mais fortes nos lugares quebrados. Mas aos que não se deixam quebrar, o mundo os mata. Mata os muito bons, os muito meigos, os muito bravos – indiferentemente.
Se não pertenceis a nenhuma dessas categorias morrereis da mesma maneira, mas então não haverá pressa alguma em matá-lo".
-> "Algumas pessoas quando ouvem um eco, pensam que deram origem ao som."
-> "São precisos dois anos para aprender a falar e sessenta para aprender a calar."
-> "É sempre assim. Morre-se. Não se compreende nada. Nunca se tem tempo de aprender. Envolvem-nos no jogo. Ensinam-nos as regras e à primeira falta matam-nos."
-> "Um idealista é um homem que, partindo de que uma rosa cheira melhor do que uma couve, deduz que uma sopa de rosas teria também melhor sabor."
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