sexta-feira, 15 de junho de 2012

Musa, Conquista Cultural - Artigo de Dom Miguel

Artigo do Bispo Diocesano de Oliveira-MG e membro do Conselho Curatorial do Museu Sagarana, Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro:

MUSA, CONQUISTA CULTURAL


"Para abrir um museu é preciso ter coragem. Para abrir um museu em Itaguara, mais ainda, especialmente porque somos uma cidade que ainda não aprendeu a cultivar sua memória. Digo ‘ainda’, porque tudo pode ser agora diferente.

Os mais velhos testemunharam ir por terra, uma a uma as referências urbanas da “risonha Nossa Senhora das Dores da Conquista” como a ela se referia João Dornas Filho, o historiador de Itaúna. Da maioria delas, só ficou, como de Itabira para o Poeta, “um retrato na parede”.  Algumas se conservam e demandam uma política de preservação e cuidado, enquanto há tempo.

Quanto a museus, cada um tem, em seu interior, na solidão de sua memória, o seu próprio e indevassável. O problema é que este se sepulta com o dono que o construiu. Daí a necessidade de um museu público. Um lugar que retrate a alma da coletividade ao recolher amostras significativas de objetos que remetem e fazem reconstruir a história para que não se reduza a um depósito de lembranças.

Um museu deve ser um organismo vivo. O Museu Sagarana nasceu, neste ponto, exemplar. Primeiro, por fazer jus ao nome: ‘Saga’ quer dizer ‘canto heroico’, segundo suas origens germânicas, e ‘rana’ , sufixo tupi que indica ‘semelhança’. Como organismo vivo, o MUSA quer ser como uma saga da terra de Nossa Senhora das Dores das Conquistas.

Diego e D Miguel na inauguração do Musa
A aparente pobreza dos objetos ganhou vida pela tenacidade do Administrador Municipal Alison Diego, alma de poeta, e pelo gênio artístico de Marcelo Costa. Alison deu as ideias e proporcionou as condições objetivas. Marcelo deu vida ao museu retirando os objetos de sua aparente insignificância, através do modelo artístico de uma instalação, alçando-os à categoria de ícones culturais. Estes trazem em si, sempre o resumo de uma multiplicidade de afetos e tornam-se, no museu, símbolos. Como Sagarana, que escapou de ser apenas o título de um volume de contos para se transformar em símbolo do sertão roseano; sertão místico e interior, mais que lugar geográfico que, por ser universal, pertence igualmente a todos os homens. Também neste ponto, a disposição dos objetos foi muito feliz. O memorial de Guimarães Rosa ocupa o centro do prédio como parte de uma história maior da qual se tornou também uma das personagens principais.

Qual seria, então, daqui para frente, a vocação do museu de Itaguara?
Fazer do MUSA mais que um lugar, uma instituição que seja ‘templo das musas’, onde se abrigue a história viva da comunidade através de uma série de projetos e sonhos:
1.     Acervo digital de fotografias e documentos realtivos a Itaguara;
2.     Acervo de entrevistas em vídeo com personagens importantes da comunidade das mais diversas áreas;
3.     Organização de uma “Biblioteca Conquistana”, onde se recolham recortes de jornais e publicações científicas, literárias e musicais sobre Itaguara e de seus filhos;
4.     Construção de um teatro e uma sala de exposições temporárias para a valorização de talentos e a divulgação da cultura local e regional;
5.     Ampliação de seu acervo atual.
Quando o MUSA for sentido pela população como o seu lugar, do cultivo de sua memória e de sua vida, tudo se fará ao seu tempo. 
Os sonhos se realizam quando sonhados conjuntamente por uma população envolvida com um projeto cultural de qualidade que contemple não apenas o gosto das massas iludidas pela manipulação da mídia, mas a construção de sua identidade como povo. Projeto para mais de um mandato eletivo, projeto para os tempos futuros!

Parabéns à atual Administração Municipal por este marco mais que importante, necessário.


            Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro.

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